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Cristãos na Síria

"Não somos estrangeiros. É o nosso país"

29 jun, 2012 • Filipe d’Avillez

O Arcebispo Farès Maakaroun confirma a situação delicada na Síria mas mostra-se confiante em Deus para que a paz triunfe naquele país.  

"Não somos estrangeiros. É o nosso país"
O arcebispo Farès Maakaroun, responsável pelos católicos greco-melquitas no Brasil, esteve recentemente no Líbano onde participou no santo sínodo daquela igreja católica de rito Bizantino, que tem a sua sede na Síria.

A situação na Síria foi um dos temas mais discutidos no sínodo, que reuniu bispos de todo o mundo.

O arcebispo confirma que na Síria já morreram até 300 fiéis desta Igreja: “Já morreram pelo menos 200 a 300 melquitas e há bastantes pessoas que já saíram das suas aldeias. Estudámos a possibilidade de lançar uma chamada ao mundo inteiro, pela paz, pela fraternidade e pela ajuda mútua, porque é preciso amor, carinho, comida e bebida, e padres para cuidar deles. Há padres que precisam de ajuda, porque a maioria, em algumas regiões, não têm possibilidades de ter sequer um salário mínimo para viver”, explica.

Segundo este responsável, que é de origem libanesa e serviu uns 20 anos na Síria, mas se encontra no Brasil desde Março de 2000, a vasta maioria dos locais na Síria estão em paz, mas há zonas “críticas”. O arcebispo pede à comunidade internacional que contribua para alcançar a paz e que não fomente mais a divisão, para que o caos que atingiu o Iraque na última década não chegue à Síria.

“Pedimos às forças mundiais para nos deixarem em paz ou para nos ajudarem, para permitir a paz. Ninguém sabe o que o amanhã pode trazer, nem no que uma troca de regime pode dar. Tome-se o exemplo do Iraque, que é muito triste. Não queremos um Iraque em todas as regiões. Queremos a paz, o amor e o perdão. Vamos continuar a rezar, a amar e a perdoar a todos”, explica.

Perante alguns relatos recentes de perseguição específica aos cristãos, principalmente por parte dos opositores ao regime, que em alguns casos associam os cristãos a aliados de Bashar al-Assad, o arcebispo fala apenas em casos pontuais e diz que isso se deve à natureza fundamentalmente pacífica dos cristãos. “Não há casos muito especiais, mas quando há pessoas a morrer, guerra, todos perdem, sejam cristãos ou não. Mas como os cristãos não participam, não andam armados, eles ficam na situação de perder tudo.”

Mais que elementos neutros nas sociedades árabes, os cristãos seriam cidadãos exemplares e de pleno direito: “Somos cristãos do Oriente. Somos árabes. Não somos estrangeiros aqui, esta é a nossa terra”.

Por fim, o arcebispo evita especular sobre uma eventual queda do regime, atendo-se a uma linguagem mais religiosa. Questionado sobre a possibilidade de Bashar al-Assad se manter como líder da Síria, responde: “Não entendo bem a política, mas entendo bem as coisas do Céu e tudo é possível com a graça de Nosso Senhor Jesus Cristo”.