Cardeal norte-americano lamenta "traição" ao Papa

O cardeal Sean O’Malley, Arcebispo de Boston, lamenta o caso da fuga de documentos na Santa Sé, que já é conhecido como "Vatileaks". O mordomo do Papa já foi detido na sequência do processo. "Conviver com uma pessoa tão de perto e sentir essa traição é uma coisa terrível", diz o cardeal. A abrir a conversa com a Renascença, o Arcebispo de Boston preferiu destacar a importância do Encontro Mundial das Famílias, que decorre em Milão e no qual Bento XVI marca presença.


Qual é a importância desta iniciativa?
Acho que é muito importante, sobretudo pelas pessoas que estão comprometidas com o ministério da família, como reconhecimento do seu trabalho, e também para que possam experimentar a universalidade da Igreja, sobretudo nestes encontros onde o Santo Padre está presente.

Não pode acontecer que gostam deste tempo de festa, mas depois voltam para suas casas e fica tudo igual?
[risos] Jesus levou os apóstolos ao Monte Tabor para quando voltassem à sua rotina pudessem sempre manter essa visão da glória.

É uma espécie de alimento?
Isso, sim.

Acha que estes acontecimentos de roubo de documentos podem ensombrar o encontro?
Acho que não. Acho que pode ser uma graça para o Santo Padre, porque tem que estar a sofrer muito. Conviver com uma pessoa tão de perto e sentir essa traição é uma coisa terrível, mas aqui o Santo Padre vai ser lembrado de outra realidade da Igreja, de todos os católicos que estão unidos a ele e que apoiam o seu ministério.

E o senhor cardeal, como viveu pessoalmente este acontecimento?
Muito triste. Uma vergonha, uma vergonha… e isto também passará. Como disse Santa Teresa, 'nada te espante, nada te turve, tudo passa, só Deus basta'.

Perfil
DISTINGUIDO POR ZELAR PELAS COMUNIDADES PORTUGUESAS
Sean Patrick O’Malley (1944) é Arcebispo de Boston, em Massachusetts, nos Estados Unidos. Pertence à Ordem dos Frades Capuchinhos, o único elevado ao cardinalato desde 2011. É doutorado em literatura portuguesa e espanhola pela Universidade Católica Americana. Quando passou por Washington, em 1967, foi encarregado de zelar pelas comunidades emigrantes portuguesas, hispânicas e haitianas. Em 1974, recebeu de Portugal a Ordem do Infante D. Henrique pelo serviço prestado ao povo português.