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Papa chega a um México em processo de reconciliação com a Igreja

23 mar, 2012 • Filipe d'Avillez

População católica tem diminuído à medida que o Estado se torne mais favorável à Igreja.

Papa chega a um México em processo de reconciliação com a Igreja
Bento XVI encontra-se neste momento a caminho da América Latina para uma visita de vários dias, durante os quais visitará o México e Cuba.

O voo, que partiu esta manhã de Itália, tem duração de 14 horas e grande parte do dia da chegada ao México será passada a descansar, para recuperar do “jet-lag” inevitável. Bento XVI não irá à Cidade do México, uma vez que o Vaticano teme os efeitos da altitude para a saúde do pontífice, que tem 84 anos.

Em vez disso o Papa encontrar-se-á com os líderes religiosos e políticos do México em Leon, no Estado de Guanajuato, conhecido como o Estado mais católico do México. Mas Guanajuato não é um retrato fiel do país, onde a Igreja tem perdido milhões de seguidores ao longo dos últimos anos, muitos dos quais têm abraçado igrejas evangélicas e outras seitas protestantes.

De mais de 99% da população que se identificou como católica no primeiro censos do país, em 1895, a Igreja conta hoje com a adesão de 82.7%. A manter-se esta tendência, é possível que haja estados mexicanos em que os católicos sejam uma minoria já em 2020.

A tendência é paradoxal e contraria a evolução política. O Partido Revolucionário Institucional (PRI), que governou o país desde a independência até ao ano 2000, era fortemente anticlerical. As medidas contra a Igreja provocaram mesmo uma revolta armada de populares católicos, entre 1926 e 1929, conhecidos como os cristeros.

Quando João Paulo II visitou o país, em 1978, ainda era proibido um sacerdote andar identificado em público e a Igreja estava impedida de possuir propriedades.

Novo partido, nova atitude
Esse cenário mudou muito, sobretudo desde a saída do poder do PRI, e o país em geral abriu-se, trazendo novos problemas e novas questões para o debate.

Entre essas questões está o “casamento” entre pessoas do mesmo sexo e a legalização do Aborto. Sendo o país uma federação, o Estado da Cidade do México, sob influência da esquerda, legalizou ambos apesar do grande protesto da Igreja, mas outros 18 estados foram no sentido contrário e baniram simplesmente o aborto nas suas constituições.

O Papa encontrará ainda um país fortemente dividido socialmente, que tem simultaneamente o homem mais rico do mundo, o magnata das telecomunicações, Carlos Slim Helu, mas onde metade da população vive abaixo do limiar da pobreza.

A violência é também um problema da maior gravidade, com uma guerra aberta entre narcotraficantes, e entre estes e a polícia, que tem feito 50 mil mortos só nos últimos cinco anos. Nesse aspecto o Papa está também bastante protegido, uma vez que Guanajuato tem sido poupado a este flagelo.

Por fim, Bento XVI terá de se confrontar com o legado do seu antecessor. João Paulo II visitou a América Latina várias vezes e no México continua a ter um lugar muito especial no coração dos fiéis. A questão levou mesmo o Bispo de Leon a avisar os seus fiéis: “Da perspectiva da fé todos os papas são iguais e merecem o nosso respeito e a nossa lealdade, independentemente do carisma. É preciso tornar isto claro para que as pessoas não esperem ver em Bento XVI um clone de João Paulo II”.

Este problema, contudo, tem sido levantado em quase todas as visitas do Papa, mas invariavelmente Bento XVI tem acabado por surpreender pela positiva, arrastando multidões maiores do que se esperaria e conquistando as populações.