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Bispo português lamenta renúncia de Rowan Williams

16 mar, 2012 • Filipe d'Avillez

Arcebispo de Cantuária anunciou hoje a sua renúncia. O seu sucessor terá dificuldade em manter a comunhão anglicana unida, considera o padre Peter Stilwell.

Bispo português lamenta renúncia de Rowan Williams
O bispo da Igreja Lusitana, ramo português da Comunhão Anglicana, lamenta a notícia hoje tornada pública da renúncia do Arcebispo de Cantuária, Rowan Williams.

D. Fernando Luz Soares não ficou surpreendido com a notícia, e considera mesmo que houve algumas falhas ao longo da década em que Williams chefiou a Igreja, mas descreve-o como um dos maiores teólogos da actualidade.

“Ele trouxe um outro perfume ao modo de encarar as circunstâncias difíceis com que a Igreja Anglicana está a lidar. Era um homem de uma grande espiritualidade e de uma grande capacidade teológica. Ele era dos melhores teólogos do mundo. O outro dia vi que alguém tinha escrito, sobre o encontro recente dele com Bento XVI, que estariam ali os dois melhores teólogos do mundo”, considera D. Fernando, em declarações à Renascença.

Contudo, a decisão de Rowan Williams, que tem apenas 61 anos, se dedicar à vida académica é compreensível, acrescenta D. Fernando: “É um homem que está talhado exactamente para a pedagogia, para o ensino, para a reflexão, para a liderança no contexto da razão, mas acho que nalguns aspectos da vivência prática, de uma liderança como é a do Arcebispo de Cantuária, houve coisas que não correram muito bem.”

Rowan Williams sempre se mostrou desconfortável com algumas das polémicas com que teve de lidar. A ordenação de mulheres para o episcopado e a aceitação de bispos em relações homossexuais são assuntos que, pese embora não chocassem a sensibilidade liberal do arcebispo, feriram gravemente a unidade da Comunhão Anglicana. Apesar de vários apelos pessoais, as divisões entre conservadores e liberais extremaram-se nos últimos anos.

O padre Peter Stilwell, responsável pelas relações ecuménicas no Patriarcado de Lisboa, explica que a posição de Arcebispo de Cantuária não é comparável ao do Papa e antevê dificuldades para quem suceder a Williams.

“A função do Arcebispo de Cantuária é ser mais um primus inter pares, ele tem igualdade de estatuto com os outros bispos anglicanos, mas tem a função de tentar conciliar as partes, de falar com elas e criar pontes entre os diversos sectores. Não sei se haverá quem o possa fazer neste momento, porque as posições estão extremadas sobre questões doutrinais e morais”, considera.

Sucessor africano?
Mal se conheceu o anúncio oficial da renúncia de Rowan Williams a imprensa britânica começou a especular sobre a identidade do seu sucessor. Um dos nomes mais badalados é o de John Sentamu, arcebispo de York e natural do Uganda.

D. Fernando Luz Soares conhece pessoalmente Sentamu, mas tem dúvidas que a escolha recaia sobre ele.

“É uma pessoa completamente diferente de Rowan Williams, ele era juiz no Uganda, um homem com grande projecção social no seu país de origem. É um homem muito simples, mas em Inglaterra estamos perante uma sociedade que ainda vive alguns daqueles tiques, de uma certa aristocracia, uma certa estrutura conservadora, as pessoas olham-no com respeito, com consideração, mas creio, por aquilo que são os comentários que ouço, que há algumas dificuldades”.

Seja quem for o sucessor a Rowan Williams, encontrará um diálogo ecuménico com a Igreja Católica bastante complicado, explica o padre Peter Stilwell: “As igrejas Anglicana e Católica encontraram sintonia nos grandes temas doutrinais, mas ficaram em suspenso novos problemas que surgiram entretanto, como a ordenação de mulheres e a questão de aceitar ou não os ministros que estivessem numa relação homossexual”, explica.

“Isso são questões que ferem a própria comunhão anglicana e sobre as quais não me parece haver qualquer possibilidade de diálogo com a Igreja Católica”, conclui o padre Peter Stilwell.