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Instituições católicas realçam injustiças contra as mulheres

08 mar, 2012

Há mais de 750 mulheres reconhecidas como santas ou beatas pela Igreja Católica.

Cem milhões de mulheres enfrentam dificuldades ao tentar deixar os seus países e 500 milhões são analfabetas. Estes são apenas dois dos números apontados por organizações da Igreja Católica no Dia Internacional da Mulher.

A questão da migração é particularmente grave uma vez que coloca muitas mulheres em situações de quase escravidão e é frequentemente difícil de identificar. Segundo a Cáritas Internacional, este é um problema que afecta hoje mais mulheres do que nunca, mas não existem sistemas eficazes para evitar maus-tratos.

“É preciso mudar urgentemente a nossa maneira de pensar a emigração feminina, porque os sistemas existentes fracassam ao não protegê-las”, considera Martina Liebsch, da Caritas Internationalis, em declarações à Rádio Vaticano.

O tema é tanto mais preocupante porque para além das mulheres afectadas são famílias inteiras que muitas vezes são atingidas: “Muitas mulheres deixam os seus filhos no seu país, às vezes para ir cuidar dos filhos de outras pessoas no estrangeiro. Os filhos das migrantes ficam com outros familiares e crescem sem as suas mães. Precisamos de políticas que permitam às famílias ficar unidas ou, pelo menos, que ofereçam protecção social às crianças que ficam para trás”, defende Martina Liebsch.

Educar para dignificar
A questão do analfabetismo é levantada pelos Salesianos, uma congregação dedicada especialmente ao ensino. O facto de existirem mais de 500 milhões de mulheres que não sabem ler nem escrever, nem participam na tomada de decisões das suas comunidades, é uma má notícia não só para elas como para a economia.

Segundo o relatório dos Salesianos, bastava que as mulheres ganhassem tanto como os homens na Europa para o Produto Interno Bruto subir 13%. No Quénia, por exemplo, se as mulheres recebessem a mesma educação que os homens, os rendimentos locais aumentariam 22%.

Para além dos 500 milhões de mulheres analfabetas há ainda 40 milhões de jovens raparigas que não estão inseridas no sistema escolar.

A preocupação da Cáritas e dos Salesianos é indicativo da atenção que a condição das mulheres merece por parte da Igreja Católica. Flaminia Giovanelli, sub-secretária do Pontifício Conselho da Justiça e Paz, recorda a forma elogiosa como João Paulo II se referiu ao “génio feminino” e como apostava nessa característica para melhorar a sociedade.

Uma ideia hoje mais actual que nunca, considera Giovanelli: “Em temos de crise, a mulher tem um papel particularmente importante na humanização da economia, no sentido indicado por Bento XVI em ‘Caritas in Veritate’, ou seja, a dimensão da gratuidade e do dom, sem a qual ‘nem mesmo o mercado pode funcionar’, dizia o Papa”.

Contudo, a ideia da especificidade da condição feminina está hoje ameaçada, considera Flaminia Giovanelli: “Quando se fala em ‘génio feminino’ pressupõe-se que a mulher tem uma vocação particular enquanto mulher. Hoje isso não é tido como certo, aliás, é abertamente contestado, sobretudo pela teoria do ‘género’. É mesmo colocada em questão em ambientes cristãos, sobretudo se forem ambientes fortemente feministas”, revela a sub-secretária à Rádio Vaticano.

O contributo das mulheres para a Igreja foi hoje também realçado no site do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, que publica uma série de excertos de reflexões de Bento XVI sobre algumas das santas reconhecidas pelo Vaticano.

A Igreja Católica tem, na sua listagem de pessoas elevadas aos altares, mais de 750 mulheres, desde Santa Clara de Assis, contemporânea e amiga de São Francisco, a Santa Joana d’Arc, que liderou exércitos, passando pela Rainha Santa Isabel de Portugal e a beata Jacinta Marto.