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Igreja não pediu guerra com Obama, mas não fugirá dela, diz Cardeal

07 mar, 2012 • Filipe d'Avillez

Arcebispo Timothy Dolan insiste que está em causa a liberdade religiosa e diz que a Igreja não aceita lições de ninguém no que diz respeito à saúde das mulheres.

Igreja não pediu guerra com Obama, mas não fugirá dela, diz Cardeal
“Nós não pedimos esta luta, mas não vamos fugir dela.” Assim se pode ler na carta que o Cardeal Timothy Dolan, presidente da Conferência Episcopal dos EUA, endereçou a todos os bispos americanos há dias.

A luta a que o Cardeal se refere diz respeito ao conflito sobre liberdade religiosa que opõe a administração de Barack Obama à Igreja Católica e outras confissões religiosas que se uniram a ela.

No contexto da reforma do sistema de saúde a administração americana obriga todas as entidades patronais a oferecer seguro de saúde aos seus funcionários, incluindo serviços contraceptivos e abortivos. A única isenção que existe em termos religiosos é para as igrejas e templos propriamente ditos, mas não abrange as restantes instituições religiosas. Assim, por exemplo, todas as escolas, universidades, organizações e hospitais católicos serão obrigados a cobrir esses serviços nos seus planos de saúde.

Várias confissões, com a hierarquia católica em destaque, manifestaram publicamente a sua revolta contra esta medida, por considerar que infringe o direito à liberdade religiosa. O Partido Republicano tem-se colocado do lado da Igreja nesta matéria, mas a Administração e o Partido Democrático têm tentado colocar a questão em termos dos direitos das mulheres no acesso a serviços contraceptivos.

“Num recente debate no senado os nossos opositores tentaram disfarçar aquilo que é em verdade uma questão de liberdade religiosa, defendendo que medicamentos abortivos e coisas desse género são um ‘assunto de saúde das mulheres’. Não permitiremos que este logro se mantenha”, afirma Dolan na sua carta, antes de recordar que a Igreja não aceita lições de ninguém no que diz respeito à saúde feminina. “Graças em grande parte às nossas freiras, a Igreja é o maior prestador de cuidados de saúde para mulheres e para os seus bebés em todo o país”.

Na sua carta Timothy Dolan, que é Arcebispo de Nova Iorque, lamenta a falta de espírito de compromisso por parte da Administração e refere o que se passou numa recente reunião onde os assessores de Obama disseram aos bispos que eles deviam ouvir a voz de católicos que são a favor da posição do Executivo: “A Casa Branca pensa, aparentemente, que os bispos não conhecem nem compreendem os ensinamentos católicos e por isso, em linha com a sua própria definição de liberdade religiosa, decidiu escolher os seus próprios peritos em doutrina católica”.

O Cardeal reafirma que a Igreja está disposta a trabalhar com quem quer que seja, “pois isto não é uma questão partidária”, no sentido de resolver a situação e esclarece que a Igreja vai recorrer aos tribunais para defender a sua posição. Dolan afirma mesmo que os bispos já estão a trabalhar com várias sociedades de advogados que aceitaram representar a Igreja de forma gratuita.

O arcebispo reconhece que preferia não ter de travar esta luta, mas diz que os bispos têm o dever de o fazer: “Cada um de nós preferia gastar a nossa energia a promover os trabalhos da misericórdia a que a Igreja se dedica: curar os doentes, ensinar os jovens e auxiliar os pobres. Mas, precisamente porque somos pastores, reconhecemos que os ministérios que Jesus nos confiou estão ameaçados por esta intrusão burocrática na vida interna da Igreja”, conclui.