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Freiras negam notícias sobre bordel na Mouraria

02 mar, 2012 • Filipe d’Avillez

Ordem das Oblatas serve apenas de mediadora entre as prostitutas e a Câmara. Destino a dar ao espaço na Mouraria ainda está por decidir.

Freiras negam notícias sobre bordel na Mouraria

A irmã Maria Angeles, directora da Obra social das Oblatas do Santíssimo Redentor, nega peremptoriamente as notícias divulgadas esta quinta-feira e que indicavam que a sua ordem se preparava para gerir um bordel na Mouraria: “Soltei uma gargalhada no carro, porque não é verdade”.

As Oblatas do Santíssimo Redentor trabalham em vários países do mundo, exclusivamente no apoio às mulheres em situação de prostituição. Foi nesse sentido que foram ouvidas em 2010 no contexto da requalificação da Mouraria e pediram à Câmara que cedesse uma casa onde se pudesse apoiar as prostitutas da zona, explica a directora técnica deste projecto social, Helena Fidalgo.

“Apresentámos uma das propostas em que queríamos que estas mulheres que ainda se mantêm no Intendente a prostituir tivessem uma oportunidade de formação e maior apoio. Temos centros muito próximos do Intendente, mas não são suficientes. O que queríamos desde o início é que elas pudessem usufruir de diversos serviços, apoio social, psicológico, jurídico e de saúde”, diz Helena Fidalgo.

A decisão da equipa, porém, é de deixar ao critério das mulheres o que querem fazer da casa, explica a directora técnica do projecto: “Pensou-se então em criar um espaço no Intendente onde elas se reunissem e se organizassem elas próprias, porque, até este momento, somos sempre nós a possibilitar-lhes estes serviços. Aqui era para lhes dar voz e serem elas as protagonistas, a dizerem o que precisavam, se de formação, de apoio na saúde ou de outra coisa”.

Mesmo que isso implique a prática da prostituição, explica Helena Fidalgo: “Se elas decidissem que era um espaço onde queriam que se praticasse o trabalho sexual para terem melhores condições de segurança, garantindo a saúde e a higiene, que pudessem fazer também essa escolha”.

Ao contrário do que terá passado para a imprensa ao longo dos últimos dias, não está ainda nenhuma decisão tomada. A casa não será da responsabilidade das oblatas, nem será gerida por elas, sublinham.

Novos horizontes
Ingrid Alvaredo, coordenadora da equipa de rua desta obra, que noite após noite apoia as prostitutas no terreno, acredita que o projecto pode ser um caminho de saída da prostituição.

“No momento em que se lhes dá oportunidade para terem formação, para construírem outros horizontes, e de gerirem como é que a vida funciona, com que regras, com que horário, estamos dar-lhes um exercício melhor de cidadania. Só pode ser um trampolim para outras coisas”, afirma Ingrid Alvaredo.

Helena Fidalgo concorda e enfatiza que é sempre esse o objectivo de quem aqui trabalha: “Isto de ser cidadã é ajudá-las a abrir os horizontes. Muitas vezes estas mulheres sentem que não conseguem fazer mais nada do que a prostituição, são muitos anos de prostituição, muito pouca experiência profissional. Aqui o que fazemos é abrir-lhes os horizontes e dizer 'não, tu és capaz de fazer outras coisas e é nesta ajuda mútua que vamos construindo esta relação'”.

Independentemente do facto deste projecto em particular chegar a ser implementado, as irmãs oblatas e as profissionais que com elas colaboram prometem continuar a trabalhar no apoio às mulheres mais marginalizadas da sociedade.

“Nosso Senhor, por quantas coisas não o criticaram e agrediram e mentiram sobre Ele? Acredito que estamos no caminho justo, a seguir Jesus e a fazer um trabalho que está de acordo com os valores do Evangelho”, afirma a irmã Maria Angeles.