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Terceira figura do Budismo “imensamente triste” com auto-imolações

09 fev, 2012

“Se os tibetanos pudessem viver a vida como quisessem, não estariam a protestar nem a sacrificar as suas vidas”, diz Karmapa Lama.

Terceira figura do Budismo “imensamente triste” com auto-imolações
O Karmapa Lama, terceira figura da hierarquia budista, publicou uma mensagem a propósito da onda de auto-imolações que se tem verificado entre os tibetanos que vivem sob ocupação chinesa.

Nos últimos 11 meses pelo menos 21 pessoas, na maioria monges ou monjas budistas, imolaram-se pelo fogo em protesto contra a repressão chinesa e o exílio do Dalai Lama.

O mais recente caso teve lugar esta semana, mas na semana passada três pessoas imolaram-se no mesmo dia. Nem todas as vítimas acabam por morrer, mas a maioria sim.

Na sua mensagem o Karmapa Lama fala da imensa tristeza que sentiu ao tomar conhecimento destes casos: “Cada notícia da morte de um tibetano deixa-me imensamente triste. Três casos num só dia é mais do que o coração aguenta”, e pede ao regime chinês para parar com a repressão e permitir que os tibetanos possam viver as suas tradições e a sua fé em paz.

Contudo, o monge budista que vive no exílio, na Índia, nega que se esteja a intrometer na vida política: “Pertenço a uma linhagem de reencarnação com 900 anos que, historicamente, tem evitado meter-se na política e não tenciono alterar isso. Contudo, enquanto tibetano, tenho grande simpatia e afecto pelo povo tibetano e não posso manter-me em silêncio perante a sua dor. O seu bem-estar é a minha maior preocupação.”

Para o Karmapa Lama a onda de imolações e o aumento de protestos violentos contra os chineses é sinal de uma grande insatisfação popular: “Se os tibetanos pudessem genuinamente viver a vida como quisessem, preservando a sua língua, religião e cultura não estariam a protestar nem a sacrificar as suas vidas.”

É verdade que a ocupação chinesa trouxe mais bem-estar material, como o regime não deixa de proclamar, mas isso não é o mais importante, realça este líder budista: “Quando eu estava no Tibete a vida era materialmente confortável. Mas a prosperidade e o desenvolvimento não têm beneficiado os tibetanos naquilo a que eles dão mais valor. O bem-estar material conta pouco sem o bem-estar interior. Os tibetanos vivem constantemente com medo de que sejam obrigados a agir contra as suas consciências e denunciar o Dalai Lama.”

Em relação às imolações propriamente ditas o Karmapa Lama não se pronuncia de forma clara. Por um lado manifesta a sua esperança de que “estes sacrifícios não tenham sido em vão, mas que tragam mudanças de política que aliviem os nossos irmãos e irmãs tibetanos”, mas no final da mensagem recorda os tibetanos do valor das suas vidas: “Lembrem-se sempre que as vossas vidas têm grande valor, enquanto seres humanos e enquanto tibetanos.”

À medida que se aproxima o mês de Março a China tem apertado a vigilância e a presença policial no Tibete, antecipando quaisquer manifestações que possa haver por altura do ano novo tibetano e do aniversário da revolta tibetana que acabou por levar à fuga do actual Dalai Lama para a Índia.