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Perito compara encobrimento de abusos na Igreja a cultura da máfia

08 fev, 2012

Adopção de um “código de silêncio” seria letal para a Igreja, considera monsenhor Charles Scicluna.

Perito compara encobrimento de abusos na Igreja a cultura da máfia
O sacerdote maltês Charles Scicluna, que na qualidade de “promotor de justiça” da Congregação para a Doutrina da Fé é o mais alto funcionário do Vaticano a lidar directamente com casos de abusos a menores praticados por clérigos, utilizou hoje um termo associado à máfia italiana para criticar as tentativas de encobrimento que destes casos na Igreja.

“O ensinamento de que a verdade é que está na base da justiça explica porque razão uma cultura mortífera de silêncio, ou ‘omerta’, é em si mesma errada e injusta”, afirmou Charles Scicluna no seu discurso ao simpósio de representantes de conferências episcopais que estão reunidos em Roma para falar da questão dos abusos sexuais na Igreja.

“Omerta” é um termo usado pela máfia italiana para definir o código de silêncio a que os seus membros estão obrigados.

Presentes no simpósio estão pessoas de dezenas de países diferentes, mas a utilização deste termo por Scicluna, que falou em italiano, terá sido facilmente entendido por quem conhece a cultura italiana. Esta será mesmo a primeira vez que alguém do Vaticano compara os casos de encobrimento na Igreja a uma actuação mafiosa.

Mas o sacerdote maltês não ficou por aí. “Outros inimigos da verdade são a negação deliberada de factos conhecidos e uma preocupação desajustada pelo bom nome da instituição como sendo algo que merece prioridade absoluta, em detrimento da revelação.”

Segundo o “promotor de justiça”, nenhuma estratégia de prevenção de abusos pode ter sucesso sem compromisso e responsabilização.

O simpósio que está a ter lugar em Roma começou na segunda-feira e termina esta quinta. Ao longo dos últimos dias, tem-se insistido na questão da colaboração com as autoridades do Estado nos países onde se verificam casos de abusos sexuais.

A Conferência Episcopal Portuguesa está representada pelo seu porta-voz, padre Manuel Morujão.