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Representante do Papa nos Estados Unidos denuncia corrupção no Vaticano

26 jan, 2012 • Filipe d'Avillez

Concessões para obras e negócios obscuros terão custado milhões à Igreja. Vaticano já reagiu e lamenta a forma como as notícias vieram a público e a falsa imagem que transmitem da realidade da Santa Sé.

Representante do Papa nos Estados Unidos denuncia corrupção no Vaticano

O actual representante do Vaticano nos Estados Unidos, arcebispo Carlo Maria Viganò, denunciou casos de corrupção e falta de transparência na administração financeira do Vaticano, em cartas enviadas ao Papa ao longo de 2011.

A revelação foi feita ontem no programa da La7, um canal privado italiano, chamado “Os Intocáveis”, onde foram divulgadas as cartas dirigidas a Bento XVI e ao Secretário de Estado do Vaticano, Cardeal Tarcisio Bertone.

Os alegados casos de corrupção prendem-se sobretudo com a atribuição de concessões para obras e outros trabalhos no Vaticano, sempre às mesmas empresas, que cobravam o dobro do valor de mercado.

Viganò também terá denunciado uma Comissão Financeira do Vaticano, encarregados de solidificar as contas da Santa Sé na sequência da crise financeira. Segundo o Arcebispo os banqueiros que a constituíam estavam mais preocupados com “os seus interesses” do que com os da Igreja e, numa operação mal sucedida, terão perdido de uma assentada 2,5 milhões de euros.

As acusações ganham peso tendo em conta que na altura o arcebispo era secretário-geral do Governo da Cidade do Vaticano, o órgão encarregado da manutenção da Santa Sé, desde os jardins até aos museus, passando pelas obras.

Durante o seu mandato, que começou em Julho de 2009, implementou reformas e cortes que levaram o Vaticano de um défice de oito milhões de euros em 2009 para lucros de 34,4 milhões de euros em 2010.

Contactado pela comunicação social Viganò mantém silêncio mas o Vaticano já comentou, pelo seu porta-voz, dizendo que a informação veiculada é "facciosa" e defendendo as políticas de transparência da Santa Sé.

O padre Federico Lombardi não desmente a veracidade das cartas, mas lamenta a revelação de "documentos privados". Critica ainda a forma “parcial e banal" como foi mostrada a situação interna do Vaticano, "exaltando os aspetos negativos”, passando uma imagem de “litígios, divisões e lutas de interesses”, o que não corresponde à realidade, "pois a situação do não é tão negativa como se faz crer."

O porta-voz da Santa Sé desdramatiza ainda a transferência de Viganò para Washington, recordando o prestígio da posição e dizendo que ninguém coloca em causa os resultados positivos conseguidos pelo arcebispo quando era secretário-geral do Governo do Vaticano.