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Islão

“Muçulmanos europeus devem ser cidadãos activos”

05 jan, 2012 • Filipe d'Avillez

Tariq Ramadan esteve esta noite em Lisboa onde abordou os principais desafios que se colocam aos muçulmanos na Europa e no Ocidente em geral.

“Muçulmanos europeus devem ser cidadãos activos”
Os muçulmanos têm de aprender a relacionar-se com o secularismo e envolver-se como cidadãos activos nas suas sociedades se querem integrar-se nas sociedades europeias e ocidentais, considera Tariq Ramadan, um dos mais respeitados investigadores sobre o assunto na actualidade.

Numa conferência ao fim do dia de hoje na Gulbenkian, promovido pelo Centro de Estudos Sociais e com o apoio do British Council, o intelectual de origem suíça e ascendência egípcia falou dos principais desafios para os muçulmanos na Europa.

“O primeiro desafio para os muçulmanos europeus é conseguir diferenciar entre os princípios do Islão e as percepções culturais. Não é fácil, e em Portugal ainda estão a dar os primeiros passos neste sentido”, considera Ramadan.

Em segundo lugar está a necessidade de ultrapassar preconceitos em relação ao secularismo. Os ocidentais devem compreender, acrescenta, que a mentalidade islâmica entende esse termo de uma forma marcada pela sua história: “O sistema secular não é compreendido no mundo árabe ou asiático como é no mundo europeu. Na Europa foi um processo de libertação, mais liberdade, no mundo árabe, com a colonização, a experiência foi a contrária. Secularismo significou ditadura”.

Por fim, considerou Tariq Ramadan, os muçulmanos na Europa têm obrigação de se relacionar com a sociedade como cidadãos de plenos direitos: “O que digo aos muçulmanos ocidentais é, envolvam-se nesta discussão enquanto cidadãos. Estamos a enfrentar uma grave crise democrática, temos de nos envolver nisto, todos juntos, exigir a nossa dignidade e respeito pelos nossos direitos.”

Este activismo deve, contudo, passar por uma maior integração e nunca por um apagar da identidade ou a elevação de barreiras culturais e políticas: “A criação de um partido islâmico na Europa é o oposto daquilo que temos que fazer. A segunda coisa que temos de evitar é a tentação de, perante a pressão política contra o Islão, tornar-nos invisíveis”.

Ignorância do Cristianismo é o verdadeiro problema
É com preocupação que Tariq Ramadan assiste ao crescimento dos partidos populistas na Europa, que fazem do combate à influência islâmica uma bandeira. Ele, que na sua Suíça nativa assistiu à alteração da constituição para proibir a construção de minaretes, considera que os muçulmanos, e não só, devem rejeitar ser catalogados.

“Os populistas que estão a dizer-vos que são só portugueses, antes de mais e acima de tudo portugueses, estão a reduzir a vossa riqueza. Estão a reduzir o vosso valor, dizendo que se limitam a ser isso. Quando as pessoas me perguntam se sou em primeiro lugar muçulmano ou suíço, respondo que é uma pergunta pateta”, explica.

Como receita para uma maior harmonia social o professor universitário pede que todos se conheçam melhor, antes de mais, a si mesmos: “O principal problema que tenho enquanto muçulmano não é que as pessoas sejam ignorantes sobre o Islão, é que são ignorantes sobre o Cristianismo. Não sabem quem são. Claro que eu vou parecer assustador se não sabem quem são. A mim não me interessa se és ateu, cristão ou judeu, desde que o conhecimento que tens de ti mesmo te ajuda a ser mais aberto a mim”, conclui.