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Grécia

Da cela do mosteiro para a cela de uma prisão em Atenas

29 dez, 2011

Em causa está um negócio que terá lesado o Estado em cerca de 100 milhões de euros. A Rússia alerta para perseguição à Igreja Ortodoxa.

Da cela do mosteiro para a cela de uma prisão em Atenas
O abade Efraim, do mosteiro Vatopedi na península de Monte Athos, encontra-se detido em Atenas desde Terça-feira.

O abade é acusado de ter sido parte num negócio ilegal de vendas de terreno que terá beneficiado o seu mosteiro e custado ao Estado cerca de 100 milhões de euros. O negócio, que foi um escândalo, acabou por ser suspenso, mas custou o lugar a dois ministros do anterior Governo e foi visto como um dos factores que penalizou os conservadores nas eleições.

A detenção do abade levanta outras questões, contudo, tal como a relação entre o novo Governo da Grécia e a Igreja Ortodoxa Grega, a confissão oficial do Estado, bem como a forma como a Igreja e os clérigos são vistos naquele país. A isenção de impostos da Igreja, por exemplo, tem sido cada vez mais criticada num país que está a atravessar uma gravíssima crise financeira.

Em causa está também o estatuto do Monte Athos. A península é reconhecida como autónoma e governada pela “Comunidade Sagrada”, composta por representantes dos vinte mosteiros que lá existem. Um governador civil, nomeado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros, representa os interesses do Estado grego.

Uma das particularidades da península é a estrita proibição de entrada de mulheres ou, sequer, de animais do sexo feminino. Estas regras estão salvaguardadas numa adenda ao acordo de entrada da Grécia no Espaço Schengen.

A Rússia, que pela sua dimensão assume por vezes a posição de defensora dos ortodoxos, manifestou a sua preocupação, questionando a necessidade de deter um monge de 55 anos, que tinha revelado vontade de colaborar com as autoridades, sobretudo à volta da época de Natal.

Também a Igreja Ortodoxa da Rússia lamentou a acção das autoridades gregas, afirmando que era natural que muitos fiéis sentissem que se tratava de um “ataque aos monges do Monte Athos e à Igreja Ortodoxa em geral”.

A Grécia responde às críticas dizendo que é um país democrático com clara separação de poderes e que, nesta matéria, não aceita lições de ninguém.

Não se sabe durante quanto mais tempo Efraim (os religiosos ortodoxos não utilizam, por regra, apelidos) continuará detido. Ainda não foi marcada uma data para o julgamento e a lei grega permite a prisão preventiva até 18 meses, mas os advogados do abade estão a trabalhar para obter a sua libertação.