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Lefebvrianos preparam resposta negativa a Roma

16 dez, 2011 • Filipe d'Avillez

Processo de reunificação iniciado por Bento XVI parece estar num beco sem saída.

Lefebvrianos preparam resposta negativa a Roma
A Sociedade de São Pio X (SSPX), que reúne os seguidores do arcebispo Marcel Lefebvre, prepara-se para rejeitar um documento que lhe foi proposto por Roma e que poderia levar à reintegração plena na Igreja Católica, eventualmente numa estrutura autónoma.

Roma e a SSPX participaram num diálogo de cerca de dois anos para chegar à raiz dos problemas doutrinais que as separam. Marcel Lefebvre foi excomungado em 1988 por consagrar quatro bispos contra as ordens expressas de João Paulo II, os novos bispos também foram excomungados. O arcebispo era um forte crítico dos documentos do Concílio Vaticano II e das subsequentes reformas da Igreja, nomeadamente a reforma litúrgica e as aberturas da Igreja no campo do ecumenismo e da liberdade religiosa.

Anos depois da morte de Lefebvre Bento XVI decidiu levantar, unilateralmente, a excomunhão dos quatro bispos e dar início a um diálogo com vista a sanar o conflito. A julgar pelas recentes palavras do bispo Bernard Fellay, que actualmente preside à SSPX, esse esforço parece ter sido em vão.

Fellay já tinha dado a indicar que a Sociedade não poderia concordar com o documento, conhecido como preâmbulo doutrinário, cujo conteúdo não foi divulgado publicamente, mas tudo indicava que em vez de uma simples rejeição seria feita uma contra-proposta.

No passado dia 8 de Dezembro, numa homilia, Fellay deu a entender que mesmo essas esperanças são optimistas, ao elencar os principais obstáculos a uma reunificação.

“Ouviram que existe uma proposta de Roma, que diz «estamos dispostos a reconhecer-vos». O problema é que existe sempre uma condição: temos de aceitar o Concílio [Vaticano II]. Podemos resumir a situação da seguinte forma: «Sim, podem criticar o Concílio, mas com uma condição: primeiro têm de o aceitar», o que nos leva a dizer: «O que é que podemos criticar depois?», afirmou o bispo na sua homilia.

O documento, segundo Fellay, diz mesmo que as interpretações e aplicações das reformas do Concílio que sejam de natureza dúbia ou que se oponham claramente à tradição da Igreja, podem e devem ser rejeitadas, como indica o novo Catecismo da Igreja Católica. O problema está aí, considera o bispo suíço, na aceitação do Catecismo, que aceita o Concílio.

Quanto à possibilidade de se chegar a um consenso negociado, por via de uma contra-proposta, nem Fellay parece muito convicto: “Estamos na posição de duas pessoas que se encontram, discutem um problema e chegam à conclusão que não estão de acordo. O que fazemos então? Roma diz-nos: «Todavia devem aceitar!», e nós respondemos: «Não é possível.» E o que decidimos fazer, para além de dizer que não é possível, é dizer-lhes: Não querem ver o problema de forma diferente? Não querem tentar perceber que a SSPX não é o problema? Há um problema na Igreja, de facto, mas não é a SSPX”.

O problema, consideram os seguidores de Lefebvre, é a infiltração do modernismo no seio da Igreja. A probabilidade, contudo, de Roma mudar para poder aceitar a reunificação é pouca, como admite Fellay: “Como percebem muito bem, humanamente falando, não há grande esperança de que aceitem mudar a sua posição”, afirma o prelado na sua homilia.