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Cristãos perseguidos

Iraquiano descreve conversão de alto custo

06 dez, 2011 • Filipe d’Avillez

Joseph Fadelle foi obrigado a fugir do seu Iraque natal. Condenado à morte por se ter convertido ao Cristianismo, vive agora em França. Em “O Preço a Pagar” explica aquilo que sofreu por amor a Cristo e a forma milagrosa como chegou onde está hoje.

Iraquiano descreve conversão de alto custo
Joseph Fadelle foi obrigado a fugir do seu Iraque natal. Condenado à morte por se ter convertido ao Cristianismo, vive agora em França. Em “O Preço a Pagar” explica aquilo que sofreu por amor a Cristo e a forma milagrosa como chegou onde está hoje.
Até ao dia em que ingressou no serviço militar, em plena guerra contra o Irão, Joseph Fadelle (nome que adoptou depois de se converter ao Cristianismo) nunca tinha convivido com um cristão. Herdeiro da chefia da tribo Mousavi, um importante clã xiíta que descende de Maomé, Fadelle ficou chocado quando soube que ia ter de partilhar a sua caserna com um tal Massoud que professava essa religião impura, no seu entender.

“Não sabia nada sobre os cristãos, a única coisa que sabia era através do Alcorão. Por exemplo eu acreditava que os cristãos têm três deuses. Depois, quem aceita Jesus como Deus é como se fosse ateu. Há outra passagem do Alcorão que diz que os ateus são impuros, e com esta interpretação os cristãos para mim eram impuros. Como é que eu ia passar a noite na mesma caserna que uma pessoa impura?”, recorda.

Aos poucos, porém, afeiçoou-se a Massoud. Tanto, que achou uma pena deixá-lo nas trevas e assumiu a missão de o converter ao Islão: “Pedi-lhe para me trazer uma Bíblia para poder examinar e convertê-lo ao Islão. Ele disse-me que sim, mas que antes eu tinha que ler o Alcorão como deve ser, de forma sincera e honesta. Comecei a reler o Alcorão e qual não foi o meu espanto quando percebi que nada daquilo é palavra de Deus. Maomé não é aquele que se diz”.

A conversão não foi imediata, mas quando aconteceu foi de forma sobrenatural: “Na véspera da minha conversão estava a dormir e vi uma ribeira, com um metro de largura, e noutro lado estava uma pessoa à minha espera. Quis saltar, várias vezes não consegui, mas finalmente consegui saltar, mas fiquei suspenso no ar. A pessoa disse-me, «se quiseres posso-te ajudar a atravessar, mas tens de comer o pão da vida». Eu não sabia o que era o pão da vida. No dia seguinte o Massoud trouxe-me a Bíblia e quando eu a abri, a primeira palavra que vi foi «Eu sou o pão da vida». Foi um sinal muito forte para mim”.

De herdeiro a perseguido
Começou aí uma nova fase da sua vida, repleta de perigos e de perseguições: “A minha família, quando soube que eu me queria converter, ligou-me com correntes e levou-me ao aiatola Mohammed Al-Sadr, [pai de Moqtada al-Sadr], que pronunciou uma fátua para me matar caso se confirmasse a conversão”.

Como não tinha sido baptizado evitou ser morto mas foi encarcerado durante mais de um ano numa prisão e torturado. Nunca desanimou. Ao ser libertado procurou novamente o baptismo e começou a preparar a fuga do país. O destino foi a Jordânia e lá ocorreu finalmente o momento que tanto esperava. Baptizado, pôde finalmente comungar “o pão da vida”.

“Ser baptizado e poder comungar foi uma sensação fantástica. Sentia-me como se fosse um príncipe. Uma pessoa acima das outras, filho de um imperador! Logo depois de ser baptizado assistia a três missas por dia, e comungava sempre”, explica.

Eventualmente conseguiu estatuto de refugiado em França, mas mesmo na Europa não está totalmente seguro: “Depois do meu livro tive um problema porque recebi ameaças directas de um Sheikh. Ele disse que ia enviar uma criança com uma faca para me matar. Tivemos que mudar várias vezes para evitar futuras ameaças”.

Da sua nova vida enquanto cristão, confessa que uma das coisas que teve mais dificuldade em aceitar foi o dever de perdoar quem o perseguiu: “Levou tempo para me convencer a perdoar os outros. Rezei muito, pedi ajuda a muita gente para aprender o que é perdoar. Hoje em dia já perdoei toda a gente. Estou convencido que o perdão foi o meu caminho, mas também rezo ainda pelos meus amigos muçulmanos. O meu problema é com o Islão, não é com os muçulmanos”.

Esta distinção entre muçulmanos e Islão é, para Joseph, um assunto importante: “Quando um Cristão é assassinado no Iraque não é por um muçulmano, é pelo Islão. Porque o muçulmano vem do Islão e é a única atitude que conhece. Se retirarmos as ideias que tem do Islão, o muçulmano é uma pessoa normal”.

Agora, apesar dos cuidados que tem de ter, pode praticar a sua fé em liberdade e nem quer ouvir falar numa suposta descristianização da Europa: “Acho graça que nas notícias dizem que os cristãos praticantes em França são 14%. Mas não concordo, não é tão pouca gente, há muitos fiéis em França. Por muito que digam contra a Europa, que o Cristianismo está a desaparecer, que há poucos fiéis nas igrejas, acredito que vão voltar. Porque não se esqueçam que a Europa é cristã”.

O livro “O Preço a Pagar” foi lançado esta tarde em Lisboa, com edição da Paulinas e apoio da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre.