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Edith Stein é canonizada

11 out, 2011 • Filipe d'Avillez

A sua vida esteve sempre profundamente ligada à sua identidade judaica. Hoje é co-padroeira da Europa.

Edith Stein é canonizada
“Não calcula o que significa para mim ser filha do povo escolhido – pertencer a Cristo, não só em espírito, mas também pela carne”. Esta frase resuma em grande parte o carisma que foi a vida de Edith Stein, mais tarde Teresa Benedita da Cruz.

Nascida numa família judia alemã profundamente devota, no dia de Yom Kipur, o mais sagrado do calendário judaico, a sua vida daria uma grande volta a partir do momento em que se decidiu converter ao Cristianismo, depois de uma passagem pelo ateísmo durante a sua adolescência.

Aluna brilhante, doutorou-se em filosofia e dedicou-se a uma vida académica, mas a leitura das memórias de Santa Teresa de Ávila, durante as férias mudaria a sua vida para sempre. Converteu-se ao Catolicismo, uma decisão particularmente difícil tendo em conta o seu património familiar.

A conversão, contudo, não alteraria a sua identidade judaica aos olhos da legislação alemã, crescentemente anti-semítica com a ascensão dos nazis ao poder na década de 30. Não que Stein quisesse desligar-se dessa identidade, da qual sentia um profundo orgulho.

Aviso profético
A sua preocupação com a ascensão dos Nazis levou-a a tomar a decisão de escrever ao Papa a avisá-lo do perigo: “Como filha do povo judeu que, pela Graça de Deus, nos últimos 11 anos tem sido também filha da Igreja Católica, atrevo-me a falar ao pai do Cristianismo sobre aquilo que oprime milhões de alemães (…) Há anos que os líderes Nacional-socialistas têm pregado o ódio aos judeus. Mas a responsabilidade pertence àqueles que os conduziram a esse estado e a quem se manteve em silêncio face a estes acontecimentos.”

Stein termina a sua carta com um apelo: “Tudo o que tem acontecido e continua a acontecer diariamente tem a sua origem num Governo que se chama “cristão”. Há semanas que não só os Judeus mas também milhares de fiéis católicos na Alemanha e, creio, em todo o mundo, têm estado à espera de que a Igreja de Cristo erga a sua voz para por fim a este abuso do nome de Cristo”

Seria preciso esperar mais alguns anos, contudo, até que a Igreja publicasse a encíclica Mit Brennender Sorge, que condenava o regime Nazi e a perseguição aos judeus. Nessa altura Stein já tinha entrado para a ordem das carmelitas há quatro anos, dedicando por inteiro a sua vida a Cristo.

Em 1939, temendo as perseguições nazis, a ordem transferiu-a para a Holanda, mas apenas ficou a salvo durante mais três anos.

Em 1942 foi presa e levada para Auschwitz. Foi assassinada numa câmara de gás no dia 9 de Agosto de 1942, Tish’a B’Ab no calendário judaico, o dia do Jejum Negro, quando se comemora a destruição do primeiro e segundo templo de Jerusalém.

No dia 11 de Outubro de 1998 foi canonizada por João Paulo II. É uma das seis padroeiras da Europa.