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Egipto

Coptas enfatizam unidade e militares são acusados de excesso de força

11 out, 2011

Televisão estatal apelou aos “egípcios honestos” para irem proteger os soldados dos cristãos.

Coptas enfatizam unidade e militares são acusados de excesso de força
Foi ao som de “Cristãos e Muçulmanos são um só povo” que cerca de vinte mil cristãos egípcios marcharam no funeral das vítimas do massacre perpetrado pelo exército, Domingo, no Cairo.

Vários comentadores coptas realçaram a necessidade de evitar divisões sectárias e religiosas e apontaram o dedo à junta militar, acusando o Governo de ter promovido os ataques para justificar o prolongamento da sua regência.

“Não se trata de ódio entre cristãos e muçulmanos”, afirmou uma copta ao jornal britânico Daily Telegraph, “trata-se do exército tentar começar um conflito interno para servir os seus propósitos, e todos sabemos que propósitos são esses”, disse, referindo-se à crença generalizada de que os militares apenas estão interessados em continuar no poder.

A fúria dos cristãos tem aumentado à medida que surgem mais revelações sobre o que se passou no Domingo, quando uma multidão de coptas protestava diante da sede da televisão estatal contra a destruição de uma Igreja por muçulmanos fundamentalistas.

Segundo várias testemunhas, incluindo muçulmanos que se encontravam nas proximidades, a resposta dos militares foi totalmente desproporcional. Foram disparados tiros para o meio da multidão e muitos dos mortos terão sido esmagados por um carro de combate que avançou indiscriminadamente contra a manifestação.

Televisão estatal apelou aos ataques
Além disso, grupos de homens armados à paisana também atacaram os manifestantes: “Acusamos o exército e a polícia de usarem vagabundos e criminosos para atacarem os manifestantes”, afirmou o padre Rafic Greiche, porta-voz da Igreja Copta Católica, uma minoria no universo copta no Egipto.

Segundo relatos vindos do Egipto a televisão estatal terá emitido um apelo aos “egípcios honestos” para irem ao local proteger os soldados das “hordas” cristãs. Soldados terão sido filmados a referir-se aos cristãos como “filhos de cães”.

Os militares por sua vez parecem ter recorrido aos "velhos tiques ditatoriais", demonstrados já por Mubarak, Kadhafi e Assad, culpando “forças estrangeiras” pelos confrontos.

Youssef Sidhom, editor do diário copta Al-Watani, explicou à Reuters que o problema principal dos cristãos não são os fundamentalistas islâmicos, embora existam: “O problema não são os salafistas ou os fundamentalistas, sabemos que eles estão sempre a atacar os coptas e as igrejas. O problema é a relutância das autoridades em aplicar a lei e proteger os coptas”.

O líder da Igreja Copta Ortodoxa, o Papa Shenouda III, decretou três dias de jejum e de luto pelos incidentes. Durante os funerais os mortos foram apelidados de “mártires que salvaram a Igreja”.