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Sírios vivem num cenário de "roleta-russa"

25 ago, 2015 • Eunice Lourenço

"Os sobreviventes dizem aos mortos: vocês têm a sorte de não continuar a ver e a viver este cruel drama sem fim." Arcebispo maronita de Damasco lança novo grito de alerta sobre o conflito que se prolonga há cinco anos.

Sírios vivem num cenário de "roleta-russa"
Uma das características da guerra na Síria é viver debaixo de bombardeamentos aleatórios, "uma espécie de roleta-russa", descreve o arcebispo maronita de Damasco, numa carta enviada à Fundação Ajuda à Igreja que Sofre.

Nessa carta, com o título "Viver debaixo das bombas", com data de segunda-feira, o bispo Samir Nassar descreve o cenário de mais um bombardeamento "imprevisível" que teve impacto tanto na igreja maronita como no templo dos cristãos de rito latino.

"Uma chuva de morteiros caiu sobre o bairro", conta o bispo. Dois morteiros atingiram as abóbadas de pedra da igreja, que se mantém de pé, mas sofreu grandes danos: rachas ainda maiores do que já tinha, sistema de ar condicionado avariado, depósitos de água e combustível danificados.

A igreja vizinha, dos católicos de rito latino, também foi atingida. Assim como muitas famílias do bairro. Morreram nove pessoas, 47 ficaram feridas.

"Os sobreviventes dizem aos mortos: vocês têm a sorte de não continuar a ver e a viver este cruel drama sem fim; não vão continuar a ver os vossos filhos, os vossos amigos e os vossos vizinhos a sofrer e a morrer nesta violência cega e gratuita", escreve o bispo.

"Os sobreviventes enterram os mortos sem conseguirem tratar dos feridos", diz.

Perante este cenário de falta de meios e de capacidade, o bispo Samir Nassar escreve que só resta aos sobreviventes "refugiarem-se na oração silenciosa diante às relíquias dos mártires, que são sementes de fé".

Mais de 250 mil pessoas morreram desde o início da guerra civil na Síria, que se arrasta há mais de quatro anos, e muitas foram sequestradas ou estão desaparecidas. Milhares abandonaram as suas casas.