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Encontro com Papa "motivou muito" o novo bispo de Setúbal

24 ago, 2015 • Eunice Lourenço

Em entrevista à Renascença, D. José Ornelas elege desempregados e imigrantes como "fundamentais" na sua missão e diz  que irá manter a tradição de empenhamento social dos bispos e das instituições da diocese.

Encontro com Papa "motivou muito" o novo bispo de Setúbal
Já está marcada para 25 de Outubro a ordenação e posse do novo bispo de Setúbal. A nomeação de D. José Ornelas, que até Junho deste ano foi superior geral dos padres dehonianos, foi divulgada esta segunda-feira. Mas foi já em Junho, na véspera do S. João, que o padre Ornelas teve conhecimento da escolha.

Como estava mandatado pela sua congregação para ir para África, escreveu ao Papa. De imediato, Francisco respondeu-lhe e marcou um encontro. Pediu-lhe que fosse como missionário, mas para Setúbal.

"Foi um encontro, como é sempre um encontro com o Papa Francisco, cheio de motivação e calor humano e do calor de fé e do Evangelho que ele transmite", recorda, à Renascença. A "igreja de Setúbal" passou a "ocupar um lugar central" no "coração" de José Ornelas.

"Foi um encontro que me motivou muito para, em comunhão com a Igreja, procurar servir esta diocese e o seu povo, dando-lhe o melhor que posso", diz o novo bispo.

D. José Ornelas já enviou uma mensagem à diocese de Setúbal em que se dirige de forma especial aos desempregados, aos idosos e aos imigrantes.

"Olhando para a história da diocese e para o empenhamento, não só dos bispos, mas também das organizações diocesanas, parece-me que isso está bem no coração da diocese e isso enche-me de alegria e de esperança, porque significa que não nos resignamos às dificuldades que sente a diocese, a população, pessoas concretas e famílias concretas, que aspiram a ter os meios necessários para viver com dignidade e projectar o futuro. A diocese tem uma tradição de empenhamento dos seus bispos, do seu clero e das organizações das paróquias que acarinho e respeito muito", afirmou o novo bispo à Renascença.

D. José Ornelas olha também já para a sua diocese à luz do que se vai passando por toda a Europa. "Setúbal é, segundo me parece, uma das regiões do país que mais diversidade cultural apresenta no contexto nacional. Hoje, o mundo em que estamos a viver, as imagens que nos chegam nestes dias da Macedónia, da Grécia, da Itália e de tantos lados não nos podem deixar indiferentes ao acolhimento da diversidade, da multiculturalidade e também da diferença religiosa. Juntos, podemos encontrar aquilo que o Papa Francisco chama a construção da nossa casa comum", afirmou.

"Reinventar" a diocese e manter a tradição
D. José Ornelas quis também deixar uma palavra aos jovens, reconhecendo que em todo o mundo hoje não é fácil "sonhar o futuro, como compete aos jovens, e sonhá-lo com realismo, mas sem perder a esperança". E acrescenta: "Espero que a nossas igrejas sejam espaço para eles, particularmente, porque precisamos de reinventar e sonhar de novo o que significa ser Igreja e ser diocese."

Reinventar, mas não inventar. Até porque o novo bispo promete dar seguimento à tradição daquela diocese: "Não vou inventar a Igreja de Setúbal, vou continuar a missão da Igreja universal, que vem dos apóstolos, mas concretamente e ultimamente com dois bispos para os quais olho com muita amizade e admiração e que representam, também para mim, um desafio de continuar uma missão de solidariedade, uma missão profética de proximidade ao povo, particularmente àqueles que têm mais necessidade de atenção e de ajuda."

D. José Ornelas refere-se a D. Gilberto Reis, que vai deixar a diocese por ultrapassar o limite de idade, e a D. Manuel Martins, o primeiro bispo de Setúbal que será homenageado em Outubro, coincidindo com a ordenação e posse do novo bispo.

Esse é, aliás, uma das coincidências que D. José Ornelas aponta para a data escolha para a sua entrada na diocese: 25 de Outubro. A outra é a chegada da imagem peregrina da Virgem de Fátima a Setúbal.

"Este peregrinar parece-me uma das imagens, dos sinais que hoje caracterizam a Igreja no dizer da mensagem que o Papa Francisco está a transmitir à Igreja: uma Igreja em saída de si própria, uma Igreja que vai ao encontro do mundo e das suas necessidades guiada pelo espírito de Deus e pela sua misericórdia."