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Papa troca receitas com religiosos no Equador

08 jul, 2015 • Aura Miguel, no Equador e Filipe d’Avillez

Falando sempre de improviso, o Papa pediu aos religiosos presentes que não se esqueçam da gratuidade das suas vocações e que nunca reneguem as suas raízes, procurando o carreirismo e a promoção.

Papa troca receitas com religiosos no Equador
O Papa Francisco surpreendeu a multidão de leigos, mas sobretudo de religiosos que se tinham juntado para o ouvir, esta tarde, no santuário de Nossa Senhora de Quinche, em Quito, capital do Equador, ao deixar de lado o seu discurso preparado e falar de improviso. Dirigindo-se então aos religiosos, o Papa fez duas recomendações: o reconhecimento da gratuidade da sua vocação e o cultivo da memória, para evitar o que ele apelidou de “alzheimers espiritual”.
O Papa Francisco surpreendeu a multidão de leigos, mas sobretudo de religiosos que se tinham juntado para o ouvir, esta quarta-feira à tarde, no santuário de Nossa Senhora de Quinche, em Quito, capital do Equador, ao deixar de lado o seu discurso preparado e falar de improviso.

“Tenho aqui um discurso preparado, mas a verdade é que não tenho paciência para o ler”, afirmou, perante os risos e aplausos dos presentes.

Antes de tomar a palavra, o Papa tinha ouvido três discursos, proferidos por uma freira, por um sacerdote e por um bispo, natural do Brasil, mas em serviço no Equador. Este bispo, D. Celmo Lazzari, perguntou ao Papa qual era a sua receita para tanta alegria, levando Francisco a levar as mãos à cara e rir-se.

Na resposta, quando começou a falar, Francisco disse que também ele queria saber qual era a receita do povo equatoriano. "Nestes dois dias notei algo raro no povo equatoriano. Em todos os lugares para onde vou a recepção é alegre, contente, cordial, religioso e piedoso, em todo o lado, mas na piedade e no amor, por exemplo, em pedir a bênção, desde o mais velho aos mais pequenos. Havia algo diferente."

O Papa diz que, após dias de reflexão e oração sobre este ponto, concluiu que a receita é a consagração ao Sagrado Coração de Jesus, que o país levou a cabo oficialmente em 1874.

"Não se esqueçam. Essa consagração é um marco na história da população do Equador e nessa consagração sinto que estão as raízes da vossa singularidade."

Dirigindo-se então mais directamente aos religiosos, e falando sempre de improviso, o Papa fez duas recomendações. O reconhecimento da gratuidade da sua vocação e o cultivo da memória, para evitar o que apelidou de "Alzheimer espiritual”.

"Não se esqueçam de onde vêm, não reneguem as raízes. Não te esqueças das raízes, não te sintas promovido. A gratuidade é uma graça que não pode conviver com a promoção e quando um sacerdote, um seminarista, um religioso ou uma religiosa entra em carreirismo começa a ter alzheimers espiritual, começa a perder a memória de onde vem", afirmou.

A adopção destes dois pilares, disse Francisco, permite duas atitudes essenciais para a vocação religiosa. "Primeiro, o serviço. Deus me escolheu, foi-me buscar para servir, e é um serviço particular a mim. Serviço, servir, servir e não fazer outra coisa, e servir quando estamos cansados, e servir quando estamos fartos", insistiu.

A segunda atitude é a alegria. "Isso é um presente de Jesus, um presente que ele nos dá se lhe pedirmos e se não nos esquecermos destas duas colunas da nossa vida sacerdotal e religiosa, o sentido de gratuidade renovada todos os dias e não perder a memória de onde viemos."

O Papa terminou assim da melhor maneira a sua visita ao Equador, de onde parte esta tarde rumo à Bolívia, para o segundo troço da sua viagem de dez dias à América Latina. Depois da Bolívia, Francisco ainda vai ao Paraguai.