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Jesuítas decepcionados com resposta da União Europeia à crise dos refugiados

26 jun, 2015 • Ângela Roque

"Assim é muito difícil falar em solidariedade europeia, falar em comunidade europeia", lamenta o responsável pelo Serviço Jesuíta aos Refugiados em Portugal sobre a "não decisão" dos países da UE.

Jesuítas decepcionados com resposta da União Europeia à crise dos refugiados

Os chefes de Estado e de governo dos 28 aceitaram acolher 60 mil refugiados nos próximos dois anos, mas as quotas são voluntárias e não ficou definido que países irão receber as pessoas. O Serviço Jesuíta aos Refugiados (JRS) diz que a Europa não consegue dar resposta concreta à situação de emergência humanitária que se está a viver e fala em "hipocrisia política".

"É decepcionante para mim e para todos os que trabalham com a população migrante e que estão por dentro da gravidade do problema. Causa imensa frustração porque daqueles que têm maior responsabilidade e a responsabilidade de decidir, quando se espera uma resposta, o que temos é uma 'não resposta', ou uma resposta vaga, confusa, sem compromisso, sem solidariedade", diz André Costa Jorge, director do JRS em Portugal.

"Põe em causa também a capacidade que os líderes europeus têm de liderar a Europa numa lógica de valores, assente em critérios que não sejam meramente economicistas, de interesses imediatos, numa lógica egoísta de cada um a pensar na sua 'vidinha'. Não há aqui visão colectiva, não há uma visão humanitária, e sobretudo não há nenhum sinal de solidariedade", diz ainda.

Decidir não decidir
Para André Costa Jorge, sem haver quotas obrigatórias definidas será difícil que cada país cumpra o que quer que seja. Mas o que o choca mais é a falta de compromisso perante uma situação de emergência humanitária: "A decisão que saiu foi 'não tomamos uma decisão'. E isto é muito frustrante para todos. Sobretudo porque é um virar de costas e é um sinal também de muita hipocrisia política, como se lavássemos as mãos de um problema dizendo que ele não é nosso, porque está do outro lado da fronteira."

"Todos nós temos de estar frustrados, eu até acredito que o primeiro-ministro italiano há-de estar bastante frustrado porque ninguém o acode. Ninguém acode o problema de Itália, ou o problema de Malta, que acabam por ter de receber as pessoas sem nenhuma solidariedade dos seus parceiros. Assim, é muito difícil falar em solidariedade europeia, falar em comunidade europeia", sublinha.

Dos 60 mil migrantes que ficou decidido acolher na Europa, 40 mil estão já em Itália e na Grécia, outros 20 mil encontram-se em campos de refugiados fora da UE. Virão sobretudo da Síria e da Eritreia, tal como as famílias que já em Setembro o Serviço Jesuíta aos Refugiados vai receber. São ao todo 15 e fazem parte de um grupo de 45 que serão acolhidos em Portugal, ao abrigo das quotas internacionais acordadas com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados.

Na entrevista à Renascença, que será transmitida no programa "Princípio e Fim" (domingo, às 23h30), André Costa Jorge fala sobre o protocolo que assinou esta semana com a Câmara de Lisboa para o alojamento destes 15 refugiados e das parcerias que espera vir a fazer com algumas empresas para melhorar a forma de acolher e ajudar os imigrantes.