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Estado Islâmico “à beira de se tornar um Estado a sério”, alerta especialista

22 mai, 2015 • Filipe d´Avillez, com agência Reuters

Grupo terrorista controla metade da Síria e um terço do Iraque. Beneficia de uma estrutura hierárquica sólida, uma administração que gere escolas, hospitais e impostos, além de ter recursos vastos, incluindo campos petrolíferos e refinarias.

Estado Islâmico “à beira de se tornar um Estado a sério”, alerta especialista
Com a recente conquista de Ramadi, no Iraque, e de Palmyra, na Síria, o autoproclamado Estado Islâmico está cada vez mais próximo de se tornar verdadeiramente um Estado. O alerta é de um especialista que colaborou com o governo norte-americano para combater a insurreição no Iraque, entre 2005 e 2008.

Num ensaio publicado numa revista australiana, e citada pela agência Reuters, David Kilcullen diz que “o Estado Islâmico é, ou está à beira de se tornar, aquilo que afirma ser: um Estado”.

“O Estado Islâmico luta como um Estado”, afirma, “coloca mais de 25 mil homens no terreno, incluindo uma ala dura de veteranos da Al-Qaeda e de ex-soldados profissionais do partido Baath [que comandava o país nos tempos de Saddam Hussei]. Tem uma organização hierárquica povoada por ex-oficiais das forças armadas de Saddam Hussein”, acrescenta.

O analista, que foi estratega principal do Gabinete do Coordenador de Contraterrorismo do Departamento de Estado dos Estados Unidos em 2005 e 2006 e, depois, conselheiro responsável por estratégia de contra-insurreição do general David Petraeus, em 2007 e 2008, recorda ainda que o grupo fundamentalista sunita controla território que inclui várias grandes cidades, tem as suas próprias forças armadas e de segurança, uma administração que gere escolas, serviços básicos, hospitais e impostos e um sistema judiciário que se orienta pela lei islâmica.

Para além disso tem recursos vastos, incluindo campos petrolíferos, refinarias e território agrícola, para além de uma sofisticada máquina de propaganda, campos de treino e redes de recrutamento.

Na opinião de Kilcullen, para se derrotar o Estado Islâmico é necessário mudar urgentemente de estratégia, uma vez que a participação das forças internacionais, que se têm limitado a levar a cabo ataques aéreos e a mandar conselheiros para as forças armadas iraquianas, não está a alcançar resultados práticos no terreno.

Apesar de alguns meses de recuos, tendo sido expulsos de Tikrit e de vários pontos da planície de Nínive, por exemplo, os militantes do Estado Islâmico conseguiram conquistar Ramadi, uma importante cidade iraquiana e, do outro lado da fronteira com a Síria, a cidade de Palmyra. As duas conquistas levaram a uma nova onda de dezenas de milhares de refugiados.

Com estas vitórias o grupo controla agora metade da Síria e consolida o seu controlo sob um terço do Iraque. Os planos das forças iraquianas e internacionais para reconquistar a cidade de Mossul, ocupada no Verão de 2014, ainda este ano parecem agora uma miragem.