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Reportagem

Ser ministro extraordinário da comunhão. "A D. Joaquina traz Nosso Senhor para o pé de mim"

16 mar, 2015 • Olímpia Mairos

Na cidade de Macedo de Cavaleiros, há dez ministros extraordinários da comunhão, que semanalmente visitam cerca de 30 idosos e doentes. Porque uma "paróquia que não é capaz de resolver os problemas dos seus pobres não se pode considerar cristã".

Ser ministro extraordinário da comunhão. "A D. Joaquina traz Nosso Senhor para o pé de mim"
Na cidade de Macedo de Cavaleiros, há dez ministros extraordinários da comunhão, que semanalmente visitam cerca de 30 idosos e doentes. Porque uma "paróquia que não é capaz de resolver os problemas dos seus pobres não se pode considerar cristã".
Quinta-feira. 16h00. Joaquina Pedro, 56 anos, sai do trabalho, na autarquia de Macedo de Cavaleiros. Hoje tem uma missão especial para cumprir como ministra extraordinária da comunhão: vai visitar os idosos e doentes.

Cumpre esta missão semanalmente desde 2002. "É tudo feito por amor", diz.

"Sou feliz porque sinto muito amor e tenho muito amor para dar", revela. Admite que "é difícil dividir o tempo para tudo": é "mãe, esposa, avó, filha, nora e sogra". Mas, "bem gerido, tudo se consegue".

Artur Martins tem 81 anos. Regressou a casa há uns 15 minutos, vindo do hospital onde esteve internado. A esposa, Maria Miguéis, tem 88 anos e encontra-se muito debilitada. Em casa está ainda um filho, Artur Fernandes de 49 anos, doente do foro psiquiátrico.

É precisamente este último que abre a porta. A visita de Joaquina "é muito importante porque é uma ajuda e um apoio à família".

Entramos em casa. À lareira está Maria do Carmo. Depois das saudações iniciais dirigimo-nos ao quarto, onde está Artur Martins.

"Boa tarde, senhor Artur. Está melhorzinho? Foi bem tratado no hospital?", pergunta Joaquina. Sorridente, Artur diz que já se sente melhor e que foi muito bem tratado.

A família está reunida à volta do doente. Joaquina traz Jesus Sacramentado. Prepara a mesa para a celebração e convida à oração. Após a comunhão faz-se um pouco de silêncio.

"Esta visita é muito importante porque a D. Joaquina traz Nosso Senhor para o pé de mim", diz Artur. "Conversa muito connosco, sempre com boa disposição e um sorriso nos lábios. Tem sempre uma palavra amiga e, quando é preciso, também faz recados", completa Maria do Carmo.

À espera de quinta-feira
A próxima paragem é numa casa de acolhimento onde se encontram quatro octogenários: João, Maria Luísa, Cacilda e Maximina.

A cuidadora, Maria Emília, conta que "estão sempre à espera da quinta-feira. Gostam muito da Joaquina, porque lhes traz a comunhão e conversa muito com eles".

Joaquina detém-se junto de cada idoso, conversa, faz carinhos e despede-se com um beijo e votos de "boa semana".

A missão prossegue. A próxima etapa é na casa do casal Brás. António Augusto tem 75 anos e um cancro. Quase não sai de casa. A esposa, Maria Fernanda, de 74 anos, é a sua única companhia.

A visita de Joaquina Pedro é um alento para a família, um estímulo e uma ajuda concreta.

"Liga muitas vezes a perguntar se preciso de compras ou de alguma coisa", conta Maria do Carmo.

Dá um exemplo recente. "Confidenciei-lhe que precisava de limpar o quarto. Passados cinco minutos, ela estava aqui para o limpar. Não me deixou limpar, fez tudo. E passa-me muitas vezes a ferro", conclui.

António entra na conversa para dizer que Joaquina "é uma presença amiga". Além da companhia e da ajuda, leva-lhes Jesus. "E isso é muito importante para quem já quase não sai de casa."

Mais uns dedos de conversa e segue-se a despedida. Joaquina ainda tem mais uma visita para fazer. Entre uma e outra desloca-se no seu automóvel porque as distâncias são significativas.

Aurora Andrade, de 83 anos, já está à espera. Quem abre a porta é a filha, Alcina. A mãe "já está à espera". Sentada no sofá, Aurora esboça um sorriso. Durante largos anos foi impulsionadora da espiritualidade franciscana em Macedo de Cavaleiros. Na casa são visíveis os símbolos franciscanos.

"A quinta-feira é sempre um dia especial", diz, porque recebe a "visita de Joaquina e pode comungar. Passa os dias à espera e até pede para comprar uma flor para receber a visita", conta Alcina, realçando que Joaquina "já faz parte da família".

Joaquina Pedro despede-se com um beijo e promete regressar na próxima semana.

Já é noite quando Joaquina conclui a tarefa de visitar os idosos. Percorreu alguns quilómetros na cidade, cumprimentou, conversou e deu a comunhão a oito pessoas.

"É muito gratificante", confidencia. "Os idosos ficam satisfeitos e estão à espera deste dia. Parece que é um alento, um viver diferente".

Igreja atenta
Na cidade de Macedo de Cavaleiros, há dez ministros extraordinários da comunhão, que semanalmente visitam cerca de 30 idosos e doentes.

São voluntários que "têm a preocupação de fazer companhia, de conhecer a realidade de cada idoso, deixando que falem das suas carências e dos seus problemas", explica o cónego Manuel Inácio de Melo, pároco de S. Pedro e coordenador da Unidade Pastoral de Macedo de Cavaleiros.

"São muitas vezes os olhos que vêem, a voz que alerta para as carências e as mãos que repartem ajuda", realça o diácono Ilídio Mesquita.

Cabe também aos ministros estabelecer a ponte com a comunidade, "a descoberta de pessoas mais carenciadas e informar a paróquia das maiores necessidades, para lhe ser prestada ajuda". Uma tarefa que faz parte da essência da Igreja porque, diz o cónego Melo, uma "paróquia que não é capaz de resolver os problemas dos seus pobres não se pode considerar cristã".

Também o cónego Melo vai ao encontro dos idosos, a quem visita periodicamente.

Numa das muitas visitas que faz encontrou "uma senhora só, a sentir-se mal e com muitas dores". "Telefonei para os bombeiros, vieram buscar a senhora para o hospital e contactei uma pessoa da família a informar sobre o que tinha acontecido", conta.

Chegou àquela casa "na hora certa". "Passados uns dias encontrei-a e agradeceu-me muito, dizendo que a tinha salvo. Se eu não tivesse chegado, teria morrido".

Esta reportagem, emitida no último programa Princípio e Fim, faz parte de um ciclo de trabalhos da Renascença que partem do desafio do Papa na sua mensagem para esta Quaresma. A Renascença partiu à procura de cristãos que se dão aos outros em áreas habitualmente esquecidas ou periféricas, contrariando a "indiferença" denunciada por Francisco.