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Emoção e inquietação perante anti-semitismo marcam cerimónias em Auschwitz

27 jan, 2015

O Papa Francisco associou-se às comemorações através de um tweet em que pede “um futuro de respeito, de paz e de aproximação entre os povos”.

Emoção e inquietação perante anti-semitismo marcam cerimónias em Auschwitz
Num ambiente de emoção e de reflexão, mas também de inquietação perante a recente vaga de anti-semitismo, sobreviventes e delegações internacionais assinalaram esta terça-feira o 70º aniversário da libertação do complexo de extermínio nazi Auschwitz-Birkenau.

O cenário de frio e de neve registado em Auschwitz, a cerca de 60 quilómetros de Cracóvia (sul da Polónia), terá sido o mesmo que as tropas do exército soviético encontraram quando chegaram a este complexo de concentração e de extermínio nazi a 27 de Janeiro de 1945 para terminar com o cativeiro de milhares de prisioneiros.

O Presidente polaco, Bronislaw Komorowski, que abriu a cerimónia, saudou os cerca de 300 sobreviventes presentes, expressando “respeito e reconhecimento” aos soldados soviéticos que libertaram Auschwitz.

Komorowski recordou que a Polónia tornou-se “depositária da memória de Auschwitz-Birkenau e do Holocausto”, dois símbolos de um “genocídio totalitário”, pedindo ainda ao mundo que tente evitar que uma tragédia como esta volte a repetir-se.

Mas foi a emoção dos testemunhos dos sobreviventes que marcou a cerimónia, que contou com a presença de vários chefes de Estados europeus, entre eles da Alemanha, França, Áustria e Ucrânia, e de representantes de cerca de 50 países, incluindo Portugal, representado pelo secretário de Estado dos Assuntos Europeus, Bruno Maçães.

"Uma eternidade de horror"
A antiga prisioneira polaca Halina Birenbaum, que actualmente reside em Israel, dirigiu-se ao público, em particular aos líderes presentes, para lamentar que, se Auschwitz existiu durante cinco anos, “então todo o mal é possível no nosso mundo”.

“Contra isso temos, têm de lutar”, disse a sobrevivente, antes de agradecer ao museu-memorial de Auschwitz pela conservação de objectos e de documentos que mostram a barbárie e a humilhação que ela e outras centenas de milhares de pessoas sofreram durante o cativeiro.

“É preciso actuar, não só recordar”, afirmou, por sua vez, outro sobrevivente, Roman Kent, sublinhando que também é importante educar as futuras gerações para que entendam o que aconteceu e ensinar a tolerância e a compreensão “tanto em casa, como na escola”.

Kent descreveu a vida no campo de concentração com palavras simples e que vão ficar na memória do mundo: “Um minuto em Auschwitz era como um dia inteiro, um dia era como uma semana, e uma semana era como um mês. Uma eternidade de horror”.

O polaco Kazimierz Albin fez a única intervenção de um sobrevivente não judeu.

Albin, que foi enviado para Auschwitz em 1940 porque cooperava com a resistência, recordou o papel dos polacos que lutaram contra os nazis e que ajudaram os poucos presos que, como ele, conseguiram fugir com sucesso das instalações de Auschwitz.

Spielberg, Obama, Putin e Francisco
Na cerimónia desta terça-feira também compareceram figuras do mundo da cultura, como foi o caso do realizador judeu norte-americano Steven Spielberg, responsável pelo filme “A lista de Schindler”.

Apesar de estar ausente das cerimónias, o Presidente russo, Vladimir Putin, recordou em Moscovo que “o fim da monstruosidade e da barbárie implacável nazi foi determinado pelo Exército Vermelho, que salvou do extermínio não só judeus, mas também outros povos da Europa e do mundo”.

O chefe de Estado russo qualificou ainda como “inaceitável” qualquer “tentativa de reescrever a História”, algo de que tem acusado repetidamente o Ocidente.

Por seu lado, o Presidente norte-americano, Barack Obama, prometeu “nunca esquecer” os seis milhões de judeus e todas as outras vítimas que sucumbiram às mãos dos nazis, pedindo ainda à comunidade internacional que assegure que uma situação semelhante não volte a repetir-se.

Através do Twitter, o Papa Francisco divulgou uma mensagem escrita em 10 línguas: “Auschwitz gritou a dor de um sofrimento terrível e reclama um futuro de respeito, de paz e de aproximação entre os povos”.