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Patriarca recusa “qualquer tipo de violência no agir e no reagir”

22 jan, 2015 • Eunice Lourenço

D. Manuel Clemente voltou a falar dos acontecimentos de Paris, na celebração do mártir S. Vicente.

Patriarca recusa “qualquer tipo de violência no agir e no reagir”

O Patriarca de Lisboa aproveitou a celebração do padroeiro da diocese, o mártir S. Vicente, para voltar a falar dos recentes ataques terroristas em Paris. D. Manuel Clemente disse que a liberdade deve guiar-se pela consciência do dever e não por qualquer coacção, identificou liberdade com responsabilidade e recusou toda a violência.

“Voltando aos trágicos acontecimentos de Paris, diremos que não se pode por em causa a liberdade de expressão, nem esquecer que ela inclui intrinsecamente a responsabilidade. Responsabilidade que deve ser apurada nos órgãos que a sociedade democrática mantém para tutelar o bem comum e rejeitando qualquer tipo de violência no agir e no reagir”, afirmou o Patriarca de Lisboa, na homilia que proferiu na Sé.

D. Manuel Clemente começou por lembrar a história de S. Vicente, um diácono de Saragoça, martirizado em Valência durante a perseguição de Diocleciano. Elogiou o desempenho e a coragem de S. Vicente, que não se impunha, e disse que “só a caridade convence e atrai”. Mas aquele era um tempo em que o Império considera que não praticar o culto oficial era enfraquecer as estruturas, por isso todos eram coagidos a praticá-lo.

“Vicente salvou-se porque manteve a integridade”, disse o Patriarca, acrescentando que “a população cristã fortaleceu-se com a memória viva dos que deram a sua fé até ao fim”. E, daí, D. Manuel partiu para uma reflexão sobre o exercício da liberdade, feita a partir do decreto conciliar sobre a liberdade religiosa.

Para o Patriarca o exercício da liberdade deve guiar-se “pela consciência do dever e não por qualquer coacção”. E liberdade e responsabilidade não se opõem, “não só coexistem como quase se identificam”. Ou seja, “liberdade é responsabilidade ou disponibilidade pessoal e publicamente garantida para responder por si às questões que a existência e a coexistência colocam”.

“Somos livres com os outros que a tal nos induzem e nunca são dispensáveis”, continuou o Patriarca, fazendo então referência aos acontecimentos de Paris. E daí voltou ao exemplo de S. Vicente, para o indicar como exemplo para a Igreja de hoje: “O modo como Vicente viveu e compartilhou até ao fim as suas convicções deve também inspirar-nos como Igreja para uma correcta posição no mundo. Posição que o Papa Bento xvi apresentou entre nós com palavras basilares: ‘nada impomos, mas sempre propomos’.”

Um exemplo de evangelização ainda mais a ter em conta num tempo que a diocese de Lisboa se encontra em caminho sinodal. Um caminho que, como disse D. Manuel, deve ser feito “nada impondo ou coagindo, mas propondo sempre”.

“Não se trata de impor o que quer que seja, mas propor e oferecer a quem quer que precise o mesmo que Cristo nos ofereceu a todos: presença, companhia, pão do corpo e do espírito, esperança preenchida por acções solidárias que a sustentem”, concluiu o Patriarca de Lisboa.