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Crónica

Papa no Sri Lanka. Uma recepção em tons de seda açafrão

13 jan, 2015 • Aura Miguel, enviada especial ao Sri Lanka

Sri Lanka recebeu Francisco com alegria e abertura religiosa.

Papa no Sri Lanka. Uma recepção em tons de seda açafrão
O primeiro dia do Papa no país asiático terminou com um encontro com líderes das quatro principais religiões (budismo, hinduísmo, islamismo e cristianismo). À espera de Francisco estava Uma plateia cheia de vestes coloridas, homens de ombros despidos e cabeça rapada, outros com turbantes de seda, brincos, leques e pinturas na testa. O Papa apelou a que se abram "novos caminhos para a mútua estima e cooperação e, seguramente, para a amizade”.
O acolhimento e o entusiasmo nas ruas de Colombo foram tão grandes que Francisco, por causa da multidão de gente que encontrou pelas estradas e do esforço que fez para saudar todos os que podia, viu-se obrigado a abreviar o tempo de conversa que estava previsto com os seminaristas e bispos.

É que, após um prolongado e desgastante voo nocturno e as boas-vindas e discursos oficiais, o percurso de 28 quilómetros entre o aeroporto e a Nunciatura, foi todo percorrido de pé num papamóvel branco e sob um sol escaldante.

O Papa de 78 anos chegou estafado à Nunciatura, mas nem por isso se mostrou menos atento quando, algumas horas depois, no palácio presidencial, foi acolhido pelo recém-eleito Presidente do Sri Lanka, Maithripala Sirisena, de mãos postas, como ali é usual. Francisco, sorridente, saudou-o do mesmo modo.

Esta naturalidade do Sucessor de Pedro tornou-se ainda mais evidente no último encontro do dia com líderes das quatro principais religiões (budismo, hinduísmo, islamismo e cristianismo).

Um encontro de grande significado quer pela diversidade religiosa do país, nem sempre pacífica, quer pela existência de alguns sectores mais rígidos e pouco dialogantes, sobretudo no seio dos budistas.

Há 20 anos, quando João Paulo II veio a Colombo, os budistas faltaram ao encontro inter-religioso. Por isso, esta tarde, já houve um avanço: vários budistas moderados participaram no encontro.

À chegada, no aeroporto da capital, Francisco disse estar "convencido de que os seguidores das várias tradições religiosas têm um papel a desempenhar no delicado processo de reconciliação e reconstrução em curso neste país".

Para uma plateia bem diferente daquela a que estamos habituados, com uma plateia cheia de vestes coloridas, homens de ombros despidos e cabeça rapada, outros com turbantes de seda, brincos, leques e pinturas na testa, o líder muçulmano Maulawi Sheik Fazil condenou com veemência os ataques terroristas em nome de Alá.

Francisco, de écharpe de seda açafrão oferecida pelo líder hindu, apelou a um diálogo eficaz, baseado "numa apresentação completa e franca das nossas respectivas convicções".

"[Este diálogo] fará ressaltar como são diferentes as nossas crenças, tradições e práticas; mas, se formos honestos ao apresentar as nossas convicções, seremos capazes de ver mais claramente aquilo que temos em comum e abrir-se-ão novos caminhos para a mútua estima e cooperação e, seguramente, para a amizade". É que numa verdadeira cooperação inter-religiosa "os homens e as mulheres não têm de esquecer a própria identidade, étnica ou religiosa, para viverem em harmonia com os seus irmãos e irmãs.

Assim, entre tantas tragédias e feridas causadas por conflitos religiosos – velhos e novos, no Sri Lanka e não só – Francisco foi claro e inequívoco:  "A bem da paz, não se deve permitir que se abuse das crenças para a causa da violência ou da guerra", disse, desafiando os crentes "a viverem plenamente os princípios da paz e da coexistência, que se encontram em cada religião, e denunciar actos de violência sempre que são cometidos".

No final do encontro, Francisco saudou afectuosamente os líderes religiosos presentes e saiu carregado de presentes de alguns monges budistas, um deles, um elefante tipo filigrana brilhante, numa caixa de vidro.