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Movimentos contra a "islamização" ganham força na Alemanha

02 jan, 2015 • Inês Alberti

Chamaram-lhe "uma desgraça para a Alemanha" e "nazis disfarçados". Merkel criticou as suas marchas semanais de "ódio" e "preconceito". Mas o movimento "contra a islamização do Ocidente" ganha adeptos.

Tem apenas dois meses de vida, mas já organizou uma marcha que concentrou mais de 17 mil apoiantes, no dia 22 de Dezembro, e na rede social Facebook é seguido por 100 mil pessoas. O movimento Europeus Patrióticos contra a Islamização do Ocidente (PEGIDA) organiza marchas semanais em Dresden.

Nos últimos meses, na Alemanha, os movimentos contra o islamismo ganharam força e um estudo recente do instituto de sondagens Forsa, publicado na revista "Stern", revela que um em cada oito alemães está disposto a juntar-se a estes grupos. Para 29% dos inquiridos, marchas anti-islâmicas são justificadas dada a influência do islão na Alemanha.

Dois terços dos inquiridos acreditam que é exagerado falar em "islamização" da Alemanha, mas muitos preocupam-se com o número de pessoas que procuram asilo. O estudo também revelou que a maior parte dos alemães pensa que as condições de entrada no país são demasiado brandas.

Em 2013, 200 mil requerentes de asilo foram recebidos por Berlim e muitos alemães temem a chegada de muitos mais, nomeadamente vindos da Síria.

Um catedral às escuras
Num manifesto publicado esta semana no Facebook, o PEGIDA pede políticas de imigração mais restritas e a "protecção da cultura judaico-cristã que dominou o Ocidente" contra a "permissão de sociedades paralelas", como "tribunais" e a "polícia" da Sharia (lei islâmica).

A Catedral de Colónia, uma das maiores na Alemanha, vai apagar todas as suas luzes na próxima segunda-feira, durante a passagem da próxima marcha do PEGIDA, como protesto.

"O PEGIDA é formado por uma grande mistura de pessoas, desde os que se integram na sociedade até racistas e membros da extrema-direita", disse à Reuters o reitor da catedral, Norbert Feldhoff.

"Ao apagarmos as luzes queremos que aqueles que estão na marcha parem e pensem. É um desafio: vejam bem quem está a marchar ao vosso lado."

O ministro da Justiça, Heiko Maas, considerou que o grupo era "uma desgraça para a Alemanha". Um ministro regional chamou-os mesmo de "nazis disfarçados".

Merkel: "preconceito" e "ódio"
O rápido crescimento do PEGIDA mereceu a atenção da chanceler alemã que critica as atitudes racistas e o "ódio" transmitido pelo grupo.

"Digo a toda a gente que vai a estas manifestações: não sigam aqueles que vos estão a atrair! Porque muitas vezes têm nos seus corações preconceito, frieza e até ódio", disse Angela Merkel na sua mensagem de Ano Novo, referindo-se às marchas semanais que o PEGIDA tem organizado.

No discurso xenófobo, ao PEGIDA junta-se o partido Alternativa para Alemanha, que deixou os seus objectivos eurocépticos para se focar nas questões da imigração.