Emissão Renascença | Ouvir Online

Opinião

O Papa fala à Europa

24 nov, 2014 • Padre Duarte da Cunha, secretário-geral da Confederação das Conferências Episcopais Europeias

O que irá dizer o Papa à Europa? Não serão, de certeza, discursos de circunstância. Esperemos que seja levado a sério.

O Papa fala à Europa
O Papa Francisco vai a Estrasburgo para visitar a Europa. Essa cidade, que foi palco de tantas guerras, tornou-se símbolo da reconciliação dos povos europeus.

O Papa visitará o Conselho da Europa. Este organismo, que reúne 47 países e nasceu em 1949, tem como objectivo levar os Estados a comprometerem-se com a defesa dos Direitos do Homem, com a democracia e com o Estado de Direito e, deste modo, assegurar a paz.

Associado ao Conselho da Europa está o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, fazendo ver que a defesa dos Direitos do Homem é algo anterior às legislações nacionais. Torna-se problemático quando a jurisprudência cede às pressões ideológicas e pretende decretar novos direitos, cuja base já não está na dignidade humana comum a todos, mas apenas nos interesses de um ou outro grupo.

João Paulo II, que visitou o Conselho da Europa em 1988, vincou, como aliás era seu costume sempre que falava da Europa, a necessidade de recordar e recuperar a consciência moral e espiritual que dera consistência ao desejo dos chamados fundadores da Europa de juntarem os destinos dos povos europeus para garantir o desenvolvimento, a paz e o respeito pelos autênticos Direitos Humanos. É preciso ter presente o homem integral, com todas as suas dimensões. Sem isso, falha o fundamento para a defesa de Direitos do Homem e não será possível manter uma estabilidade social baseada apenas na economia.

O maior perigo de hoje na Europa, que se demonstra na irrelevância internacional que ela vai tendo, é a perda da identidade e da esperança. O Papa Francisco tem dito que a Europa é um continente cansado que precisa de se rejuvenescer e, como diziam os Papas antes dele, tem de reencontrar as suas raízes (discurso a 15 de Junho). Esperamos do Papa uma palavra que ajude a tomar de consciência das mudanças que são precisas para dar de novo uma alma à Europa.

O Papa vai também falar aos eurodeputados e aos outros responsáveis da União Europeia (28 países). Com esse discurso vai, certamente, dizer algo que interessa a todos os cidadãos e não apenas aos políticos. Afinal, está em jogo o que deve ser e o que pode ser a União Europeia.

Na sequência dos seus predecessores, Francisco tem insistido que a realidade precede a ideia (EG 231-233). Por isso, quando olha para os emigrantes, para os desempregados, para os idosos ou para os doentes, para as mulheres abandonadas a si com crianças ao colo, e tantos que se sentem cansados e desanimados sem esperança, o Papa conclui, de modo incisivo, que é preciso fazer algo que vá para lá das palavras. Só o amor traduzido em actos pode fazer despertar uma nova paixão pela Europa. É isso que o Papa quer que os cristãos façam, mas que desafia todos a fazerem também.

O que irá dizer o Papa à Europa, ou seja, a todos nós europeus? Não serão, de certeza, discursos de circunstância. Esperemos que seja levado a sério.