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Médica portuguesa no Sudão do Sul. "Era a mão de Deus que estava ali a ajudar-nos"

13 nov, 2014

Ana Lufinha ajudou a salvar vidas nas condições mais difíceis. Regressou a Portugal, mas já tem planos para uma nova missão humanitária. 

Médica portuguesa no Sudão do Sul. "Era a mão de Deus que estava ali a ajudar-nos"
Ana Lufinha , medica pela Cruz Vermelha , esteve recentemente no Sudão do Sul

Trocou as férias por uma missão humanitária no Sudão do Sul. No meio da guerra e da pobreza profunda, a portuguesa Ana Lufinha encontrou sinais de Deus e um povo com uma “grande força” de viver.

Ao longo de sete semanas, a anestesista com carreira feita no INEM esteve ao serviço da Cruz Vermelha Internacional no país mais jovem do mundo, independente desde 2011.

Foi a sua primeira missão. Católica praticante, nos momentos mais difíceis chegou a questionar onde estava Deus no Sudão do Sul e a perguntar se este é um país esquecido.

Mas depois as dúvidas dissipavam-se. “E aí a fé renasce quando havia alturas em que eu tinha doentes que não sabia como anestesiar quando me falta tanto equipamento, mas depois fazia-se uma luz e as coisas corriam bem e, sem sombra de dúvida, para mim, era a mão de Deus que estava ali a ajudar-nos. Vi pessoas que, provavelmente, no nossos país se calhar tinham morrido e que lá sobrevivem. É um povo que tolera muito, tem uma grande força de querer sobreviver”, conta à Renascença.

As equipas humanitárias trabalham com uma “entrega muito grande” em condições muito difíceis. Há quem faça missões de um ano para ajudar o povo do Sudão do Sul. 

Ana Lufinha teve que tirar férias para ir em missão, porque a sua entidade patronal não lhe concedeu uma licença sem vencimento. Esteve no Sudão do Sul entre 16 de Setembro e 31 de Outubro. Nada é fácil naquela parte do mundo.

“O Sudão do Sul é um país muito pobre, as condições em que nós próprios vivemos são muito más. O mais difícil foi as condições de vida. Depois saber trabalhar em situações de baixos recursos, porque enquanto aqui nos nossos hospitais temos tudo, apesar de, de vez em quando, reclamamos que falta alguma coisa, mas agora acho que nunca mais reclamo, porque vi como é que é possível anestesiar e socorrer pessoas, fazer as  cirurgias que fazemos com tão baixos recursos com ali”, recorda a médica. 

Socorreu muitas vítimas dos combates, a grande maioria eram soldados, mas também ajudou a salvar a vida a civis, e lembrou-se das palavras do Papa. “Nunca tinha estado num cenário de guerra e ver como a guerra não tem qualquer razão de ser, como diz o Papa Francisco, não há qualquer motivo para isto. É lamentável ver gerações de jovens morrer tão cedo. A taxa média de vida no Sudão do Sul é de 40 anos, é muito baixa.” 

Depois do Sudão do Sul, Ana já tem planos para uma próxima missão humanitária no Líbano para tratar feridas de outra guerra, a da Síria.