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O orgulho da única aldeia portuguesa com uma Basílica

09 nov, 2014 • Olímpia Mairos

A elevação da igreja-santuário do Santo Cristo de Outeiro, no concelho de Bragança, à categoria de Basílica “salvaguarda a memória, a identidade e os valores históricos” e é “um novo impulso no ardor missionário e pastoral", diz o bispo de Bragança-Miranda.

O orgulho da única aldeia portuguesa com uma Basílica
Outeiro, no concelho de Bragança, é a única aldeia do país com uma basílica.

A celebração da concessão solene do título de Basílica Menor teve lugar este sábado e foi presidida pelo bispo da diocese, D. José Cordeiro.

O título foi concedido pela Santa Sé “para estabelecer um vínculo maior com a Igreja Universal e com o Papa” e para que o templo se possa tornar “num centro de irradiação da espiritualidade do coração de Deus para o nordeste transmontano e para todos quantos tenham o privilégio de a visitar”, refere D. José Cordeiro à Renascença.

Na homília, o bispo da diocese afirmou que “no esplendor” da Basílica do Santo Cristo de Outeiro se encontra “o sentido da cruz pascal de Cristo” e que as pinturas bíblicas, patrísticas e hagiográficas da “tão singular sacristia” são “verdadeira escola da Bíblia e da santidade”.

O bispo de Bragança-Miranda refere que este acontecimento é para a diocese “um novo impulso no ardor missionário, no ardor pastoral e no sentido espiritual do povo que peregrina”.

D. José Cordeiro refere ainda que a Diocese quer fazer com que “o turismo seja um lugar de evangelização” e dar um “contributo positivo para a promoção da dignidade da pessoa humana e para o desenvolvimento”, já que, citando o beato Paulo VI, “o desenvolvimento é novo nome da paz”, conclui.

“Basílica” é o título concedido pela Santa Sé a algumas igrejas pela sua antiguidade ou por serem centros de peregrinações. Em Portugal existem oito Basílicas, todas situadas em cidades, sendo a de Outeiro a única numa aldeia.

Orgulho e vaidade
Os habitantes de Outeiro dizem-se orgulhosos do seu património e acreditam que a nova basílica pode ajudar a incrementar o turismo na região e constituir-se num factor de desenvolvimento.

Francisco Cavaleiro vive o dia de festa com grande alegria e manifesta-se “orgulhoso e vaidoso”, porque, refere este habitante de Outeiro de 72 anos, “não há um monumento como este” e “é um verdadeiro cartão-de-visita”, que “vai trazer muita gente de fora”, vaticina.

“É espectacular. É uma vaidade e uma grandiosidade para a aldeia e para o concelho termos uma Basílica”, acrescenta Lucas Silveira, também de 72 anos.

César Garrido, presidente da Junta de Freguesia de Outeiro, afirma que a Basílica de Santo Cristo “retrata bem o valor da história e do património e o papel que o concelho de Outeiro representou”.

O autarca tem esperança que, sendo Outeiro a única aldeia do país a ter uma Basílica, possa “atrair gente e algum investimento”. “A aldeia vai passar a ser muito mais divulgada e a nossa terra vai passar a ser mais visitada. Oxalá tudo isto sirva de motor de desenvolvimento”, conclui.

Monumento único na região
Construída no século XVII e monumento nacional desde 1927, a Basílica Menor de Santo Cristo de Outeiro, distingue-se pela simetria e equilíbrio de proporções e é um dos imóveis com maior valor arquitectónico do distrito.

A fachada principal é rasgada por um magnífico portal geminado, encimado por uma grande rosácea e flanqueada por duas torres sineiras com remate piramidal. No interior, de gosto barroco, sobressaem os altares de talha policromada e dourada.

“É um templo único”, afirma o Director Regional de Cultura do Norte, António Ponte. “Tanto do ponto de vista da arquitectura como do ponto de vista da decoração, é um templo de excepcional qualidade”, refere à Renascença.

As paredes da sacristia estão cobertas com cerca de 90 imagens emolduradas que representam cenas bíblicas com a vida de Cristo, uma “autêntica escola bíblica”, segundo o bispo de Bragança-Miranda, D. José Cordeiro. A sacristia é uma obra de arte da autoria do pintor espanhol setecentista Bustamante.

A elevação desta igreja à categoria de basílica é, no entender de António Ponte: “Fundamental do ponto de vista da salvaguarda da memória, da identidade e dos valores históricos” e “muito importante na criação de valor”.

“Valor para que Outeiro e Bragança tenham mais um motivo de atracção, tenham mais um factor que fomente a visita de pessoas de todo o país à freguesia e ao concelho, para verem não só Santo Cristo de Outeiro, mas também todo o outro património e que este possa ser o motor de dinamização de vida económica e social”.

O interior da Basílica de Santo Cristo de Outeiro está a sofrer obras de conservação e restauro, orçadas em mais de 400 mil euros, e que deverão estar concluídas até ao final do ano.

O milagre
De acordo com a tradição e algumas gravações em pedra que se encontram na Basílica de Santo Cristo de Outeiro, no dia 26 de Abril de 1698, numa capela de Outeiro, o Santo Cristo suou sangue. “Este milagre conheceu rápida divulgação e muita devoção e ainda nesse ano foi lançada a primeira pedra para a construção do santuário”, explica o bispo diocesano.

A igreja foi aberta ao culto em 1713, no dia 3 de Maio. Contudo o templo só foi concluído em 1739. Mas, nessa altura, já se tinha tornado um importante local de peregrinação. No ano passado, aquando dos 300 anos da dedicação do santuário, o templo recebeu uma bênção apostólica, enviada pelo Papa Francisco ao reitor e peregrinos do Santuário.