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“Não nos podemos resignar a um Médio Oriente sem cristãos”

20 out, 2014 • Filipe d’Avillez

Para o Patriarca da Igreja Maronita, a preocupação do Papa com o que se tem passado no Médio Oriente representa um apoio moral aos cristãos perseguidos, mas também tem peso diplomático.

“Não nos podemos resignar a um Médio Oriente sem cristãos”
Francisco realçou esta segunda-feira que o mundo, e mais especificamente a Igreja Católica, não se podem resignar a aceitar um Médio Oriente desprovido das suas comunidades cristãs.

O Papa falava a um consistório de cardeais, reunidos para deliberar sobre a actual crise de segurança naquela região do mundo. Aos cerca de 90 cardeais que estiveram presentes, juntaram-se ainda os patriarcas de várias igrejas católicas de rito oriental com forte presença no Médio Oriente.

Este encontro segue-se a outro recente com os representantes do Vaticano nos países do Médio Oriente, durante o qual o Papa foi posto a par de tudo o que se passa na região, no contexto da actual crise do avanço do autoproclamado Estado Islâmico, que controla vastas zonas do Iraque e da Síria e que tem perseguido centenas de milhares de membros de minorias religiosas e étnicas, incluindo os cristãos.

Após mais de uma década de perseguição maior ou menor no Iraque e alguns casos graves na Síria desde o início da guerra civil, a acção do Estado Islâmico pode vir a colocar em perigo a própria existência de cristãos naqueles dois países.

A ideia foi firmemente rejeitada por Francisco: “Não nos podemos resignar a pensar num Médio Oriente sem cristãos, que há 2.000 anos professam o nome de Jesus.”

“Os recentes eventos no Iraque e na Síria são muito preocupantes. Estamos a assistir a um fenómeno de terrorismo a uma escala inimaginável. Tantos dos nossos irmãos e irmãs perseguidos tiveram de abandonar as suas casas de uma forma brutal. Parece que se perdeu o sentido do valor da vida humana, que a pessoa não conta para nada e pode ser sacrificada em nome de outros interesses. Tudo isto, infelizmente, devido à indiferença de tantos.”

Os trabalhos e reflexões dos cardeais e patriarcas foram à porta fechada, mas no final o director da Sala de Imprensa da Santa Sé explicou aos jornalistas que houve 27 intervenções sobre este assunto.

Falando antes do consistório, o patriarca Rai, da Igreja Maronita, com sede no Líbano, disse que a atenção que o Papa tem dado à situação dos cristãos no Médio Oriente tem sido importante: “Representa um grande conforto moral para os cristãos do Médio Oriente, mas também para os países do Médio Oriente, que o Papa tenha esse interesse e essa preocupação, porque todos precisam de um apoio moral."
 
"É um verdadeiro apoio moral, mas é também um verdadeiro apoio diplomático, porque a Santa Sé também tem um papel a desempenhar, uma influência importante em nível internacional”, disse o Patriarca, em declarações à Rádio Vaticano.