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Reportagem

Peregrinações que mudam vidas

13 out, 2014 • Olímpia Mairos

A pé, de bicicleta, de automóvel ou de autocarro. São milhares os peregrinos que todos os anos se dirigem a Fátima. Neste Dia Nacional do Peregrino, que se assinala nesta segunda-feira, a Renascença dá-lhe a conhecer a experiência de quatro peregrinos que somam várias centenas de quilómetros.

Celebra-se esta segunda-feira, 13 de Outubro, o Dia do Peregrino. Instituído, este ano, pela Assembleia da República, o dia visa “dignificar o papel do peregrino na construção da sociedade portuguesa”.

Não é fácil saber quantos peregrinos nacionais se dirigem anualmente para o Santuário de Fátima. São milhares e milhares, de todos os pontos do país. Nos últimos anos, tem aumentado o número de peregrinos que, dos mais diversos pontos do país, sobretudo nos meses de Maio e Agosto, se dirigem a pé para o “Altar do Mundo”. As motivações são, essencialmente, de natureza espiritual.

Caminhos que mudam vidas
Foi uma promessa, um problema grave de saúde da esposa, que levou Rui Guerra, há oito anos, pela primeira vez em peregrinação a Fátima.

Na altura, este funcionário público, de 53 anos, fez a viagem de automóvel e ficou hospedado num hotel, mas, ao encontrar-se com outros peregrinos que fizeram o caminho a pé e ao ouvir as suas experiências, percebeu que ser peregrino não conjugava com o conforto da viagem e da estadia e, então, decidiu tornar-se peregrino a pé. Desde essa altura, já fez cinco peregrinações, mais de mil e oitocentos quilómetros.

“O bonito disto tudo é a fé, a oração, a relação de compromisso, de cumplicidade de entre-ajuda, de verdadeira amizade que se estabelece”, conta, revelando que foi a partir da mensagem de Fátima e das experiência como peregrino que se tornou uma “pessoa diferente”.

“Nós mudamos muito porque os ensinamentos de Nossa Senhora vão no sentido de sermos melhores e tornarmos o mundo melhor. E eu mudei também no ser mais compreensivo com os outros e tentar perceber que a nossa vida é uma passagem”, confidencia.

“Por que é que havemos de pegar, implicar com coisas tão banais, que não valem rigorosamente nada?”, questiona, para, de seguida, dar a resposta: "A vida é uma passagem e todos somos chamados ao amor fraterno, à solidariedade”. 

Este amor e esta solidariedade que Rui procura ter presente no seu dia-a-dia no trabalho, na família, na relação com os outros e em cada peregrinação a Fátima. “Este ano. voltei a fazer a peregrinação. Fi-lo com imensa alegria, com mais maturidade, numa atitude menos egoísta e de total abertura a quem encontrasse pelo caminho. Assumi como compromisso pessoal estar ao lado e ajudar quem tivesse mais dificuldade em chegar a Fátima”, conta à Renascença.

Rui Guerra assegura que, “enquanto puder”, vai ser peregrino, “para agradecer e celebrar o dom da fé” e “colher ensinamentos para ser um cristão melhor”.

Fé que faz peregrinar
Mónica Fernandes, de 38 anos, é licenciada em psicologia, exerce as funções de directora do Lar da Santa Casa da Misericórdia de Vila Flor. Fez a sua primeira peregrinação a pé em 2003. Desde então. só faltou dois anos. Já fez, por isso, nove peregrinações. São mais de 3.200 quilómetros palmilhados na “alegria” e em “gratidão” pelo dom da fé. Mónica promete que vai continuar a peregrinar para “aprender com Maria o caminho para Deus”.

“É uma forma de viver a fé como Nossa Senhora, porque Maria também foi peregrina”, conta. sorridente. à Renascença.

Mónica diz que “a peregrinação é feita de coisas muito boas”. Destaca “o convívio, a ajuda, o sair da rotina e caminhar”, para afirmar que “quem faz a experiência de ir a pé a Fátima, nunca mais deixa de ser peregrino”.

“A vida humana é uma peregrinação e ao caminhamos para Fátima, assimilamos mais esta verdade”, realça.

Maria da Glória Azevedo tem 62 anos e é licenciada em físico-química. Há muito que ansiava fazer a caminhada a pé para Fátima, pela grande devoção que nutre por Nossa Senhora, mas só pôde concretizar o sonho depois de se reformar, uma vez que, de Vila Flor a Fátima, são, pelo menos, nove dias de caminhada.

É com os olhos a brilhar que esta professora reformada descreve a experiência de ser peregrina. “É algo indescritível, na medida em que ajuda a viver a fé”.

Na caminhada de peregrina refere aprendizagem da “ajuda”, da “entre-ajuda” e da “convivência” com o seu grupo e com outros que encontram pelo caminho, que - refere - “são imensos e constituídos por gente muito jovem e também por alguns mais idosos”.

Maria da Glória salienta que a peregrinação a pé a Fátima a “ajuda a viver como peregrina ao longo do ano” e a “olhar para Maria, procurando aprender dela a simplicidade, a humildade, a humanidade e a atenção ao outro”.

“Quem não gostaria de ser como Maria?", pergunta em tom de exclamação, confidenciando que é a Senhora de Fátima a quem se dirige e recorre no quotidiano da sua vida.

“Maria dá-nos muita força. Peço muito a Maria que me dê, e dê a todos, a coragem que ela teve, ao ver o seu filho pregado na cruz, mal tratado, nos seus braços, sem poder fazer nada… É esta força que eu peço a Maria todos os dias”, conta à Renascença.

Já Paula Morais, 42 anos e auxiliar de Lar de Terceira Idade, não encontra muitas palavras para descrever a experiência de peregrina. Foi a pé a Fátima por duas vezes, em cumprimento de uma promessa, mas quer voltar a ir “só para agradecer”.

"Nossa Senhora tem-me ajudado muito ao longo da vida. Tenho muita devoção a Nossa Senhora de Fátima”, diz, com as lágrimas a quererem saltar-lhe dos olhos.

“Percorrer o caminho a pé implica algum sofrimento, sobretudo para quem sofre dos pés, como é o meu caso, mas nada se compara à experiência de caminhar com os outros, à amizade que se estabelece e ao podermos celebrar a fé em conjunto”, diz Paula.