Um casal brasileiro está entre as 294 pessoas que participam no sínodo da família, que tem início no próximo domingo, em Roma.
Para além de perto de 200 bispos, o Papa Francisco convidou vários peritos em assuntos ligados à vida familiar para participar nos trabalhos e ainda algumas dezenas de auditores, incluindo 14 casais.
Arturo e Hermelinda Zamperlini são o único casal lusófono desafiado para estar no sínodo. Acreditam que o convite partiu do facto de serem os responsáveis, no Brasil, do movimento das Equipas de Nossa Senhora, que trabalha a espiritualidade dos casais.
"Somos 45.500 membros no total do Brasil, com 2.250 religiosos, entre padres, diáconos e freiras. É muito expressivo no Brasil, muito forte. O nosso compromisso com a família, com o casal, também é muito visível. Acreditamos que tenha sido pelo movimento que fomos convidados", explica Arturo.
"O casamento é o início de tudo"
O casal confessa que, embora já tivesse sido sondado sobre a disponibilidade para estar no sínodo, a confirmação surgiu pela imprensa.
Os Zamperlini estarão presentes como auditores, o que não lhes confere direito de voto, mas permite intervenções. Prometem estar atentos.
"O nosso papel, basicamente, vai ser ouvir", explicam. "Acreditamos que seja pouca a nossa contribuição: é um debate dos bispos. O nosso papel será ouvir, anotar, quando solicitado vamo-nos manifestar, mas basicamente fazer anotações e observações e no final faremos um relatório sobre o assunto".
O facto de haver casais a participar neste sínodo é visto como uma confirmação de que a Igreja os valoriza cada vez mais como núcleo fundamental da vida eclesial.
"Acredito que a Igreja, no momento em que chama casais, quer ouvir o que eles têm para dizer. É muito importante porque o casamento é o início de tudo, é onde a família começa", considera Hermelinda.
"Ouvir", "acatar e obedecer"
Sobre casos concretos e polémicos, como o debate à volta do acesso aos sacramentos por parte de pessoas em uniões irregulares ou a possibilidade de agilizar os processos de nulidade, Arturo e Hermelinda preferem não dar opinião, admitindo que aceitarão aquela que for a decisão dos bispos.
"Primeiro, temos de ouvir, eles estão lá para debater as questões. E o nosso papel como católicos é acatar e obedecer", diz Hermelinda.
Mas ambos concordam que a discussão é urgente e acreditam que este sínodo pode representar para a família o que o Concílio Vaticano II representou para a Igreja.
"Acreditamos que o Papa Francisco foi muito feliz em escolher este sínodo num momento em que a família está a ser pressionada, a sociedade actual tende a não acreditar na família como nós acreditamos e imaginamos que o debate vai passar por todas estas manifestações da sociedade de hoje", diz Arturo.
"Acreditamos que estamos a viver não uma época de mudanças, mas uma mudança de época. O Papa Francisco tem sido muito feliz em entender isso, em colocar a Igreja, usando uma expressão ainda do Santo Padre João XXIII, de fazer um 'aggiornamento' da Igreja nos momentos que estamos a passar. Acho que é essa a razão principal da convocação do sínodo", afirma.
Seja o que for que se concluir no longo processo sinodal, o casal brasileiro continuará, no contexto das Equipas de Nossa Senhora, a apostar nos casais: "O nosso movimento acredita na unidade do casal, que o casal, em vez de se separar se esforce para ficarem juntos, se aceitem, renovem as promessas do namoro, do noivado, de casamento e se aceitem juntos. Nós temos 41 anos de casamento e cada vez mais percebemos que a vida é melhor juntos e não separados", explica Arturo.
Acompanhe o sínodo da família na Renascença. Notícias, entrevistas e análise.