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Bispo do Porto diz que recusa de entrada a imigrantes "é pecado”

13 ago, 2014 • Olímpia Mairos

Entre vários alertas, em Fátima, D. António Francisco dos Santos lembrou que a falta de trabalho “desumaniza as pessoas e coloca em perigo o futuro do país”.

O bispo do Porto evocou, esta quarta-feira, na homilia da missa que enceerou a peregrinação aniversária de Agosto, em Fátima, o “enorme movimento migratório que caracteriza o nosso tempo” para recordar que Portugal é, desde há muitos séculos, uma “nação de emigrantes e terra de imigrantes”.

D. António Francisco dos Santos defendeu que Portugal “deve assumir com alegria este desígnio da sua história e acolher com generosidade os novos imigrantes, que procuram o nosso país”.

“Honra-nos este nosso passado, lido em chave de emigração”, sublinhou o prelado, perante os milhares de fiéis reunidos na peregrinação anual dedicada ao migrante.

A falta de trabalho “desumaniza as pessoas e coloca em perigo o futuro do país”, lembrou ainda o bispo do Porto, acrescentando que Portugal “não pode esquecer que sem os emigrantes de ontem não era o país que é hoje e sem os emigrantes de hoje não consegue vencer a crise que tem vivido”.
 
Igreja deve alertar
“Não podemos ignorar nem deixar de lamentar” as razões que levam hoje tantos portugueses, “cheios de dons e talentos”, a sair de Portugal, porque aqui não encontram trabalho, prosseguiu D. António Francisco, sublinhando que “à Igreja não pertence decidir políticas de emigração”, mas sim “alertar com coragem e determinação os governantes para as causas da justiça e para os valores do bem comum, em ordem a promover uma economia de rosto humano e solidário e de um sistema financeiro assente na verdade”.

Para D. António Francisco dos Santos, os emigrantes são “embaixadores da esperança” e “protagonistas de um mundo melhor, com rosto humano, esculpido com linhas cristãs da bondade, da hospitalidade, da universalidade e da fraternidade” e “recusar a entrada a quem procura imigrar, para viver em família com dignidade e para trabalhar com honestidade, é um pecado”.

“Ninguém pode roubar aos emigrantes o encanto do sonho e a alegria da esperança”, sublinhou.

Partindo da mensagem do Papa Francisco para a Jornada Mundial do Migrante de 2014, o prelado convidou os católicos a “não perder a esperança” de que lhes está “reservado um futuro mais seguro” e que nos “caminhos da migração, encontrarão sempre uma mão estendida que lhe fará experimentar a solidariedade fraterna e o calor da amizade”.

"Grandes pecados"
Na sua homilia, o bispo do Porto aludiu ainda aos “grandes pecados”, ao longo dos séculos, “cometidos contra os irmãos”, no “reconhecimento do próximo, da hospitalidade dada aos estrangeiros, da buca da fraternidade, do respeito pela dignidade humana, da construção do bem comum e da promoção da justiça social”, para convidar a assembleia a pedir perdão por todas as vezes que se acomodou ou fechou no seu “bem-estar” e “anestesiou o coração”.

D. António Francisco dos Santos destacou ainda a solicitude pastoral da “disponibilidade dos sacerdotes e agentes da pastoral para partirem com os emigrantes para os países de destino”, referindo que “devemos trabalhar para que esta seja também a hora da reconciliação entre as pessoas estrangeiras e da paz entre os povos desavindos”.

O bispo do Porto terminou a sua homilia agradecendo aos sacerdotes, aos consagrados, aos agentes de pastoral, às comunidade e às missões católicas dispersas pelo mundo o “bem realizado na vanguarda da missão ao serviço dos emigrantes” e agradeceu também o trabalho feito pela Obra Católica Portuguesa das Migrações, pelos secretariados Diocesanos da Mobilidade Humana e pelas Associações de Migrantes.

As suas últimas palavras foram dirigidas à Senhora de Fátima, pedindo a “bênção necessária para continuarmos o caminho rumo a um mundo melhor” e que “abençoe Portugal, proteja os peregrinos e os emigrantes, alivie as dores dos que sofrem e dê a paz ao mundo”.