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Principal líder religioso xiita no Iraque pressiona primeiro-ministro

08 ago, 2014 • Filipe d’Avillez

Num sermão lido na mesquita de Kerbala, aiatola Ali al-Sistani disse, esta sexta-feira, que os políticos que tentam manter os seus cargos a todo o custo estão a cometer “um erro grave”.

Principal líder religioso xiita no Iraque pressiona primeiro-ministro
O aiatola Ali al-Sistani pressionou, esta sexta-feira, o primeiro-ministro do Iraque a demitir-se, de modo a permitir a formação de um Governo e a organização de uma resposta à altura da ameaça colocada pelo Estado Islâmico.

Nuri al-Maliki está a tentar assegurar um terceiro mandato à frente do país, mas o Parlamento continua gravemente dividido e, mesmo com os militantes islamitas nos arredores de Bagdade, ainda não foi possível formar Governo.

Esta sexta-feira, num sermão lido na mesquita de Kerbala, Sistani disse que os políticos que tentam manter os seus cargos a todo o custo estão a cometer “um erro grave”.

A posição de Sistani é muito importante uma vez que é o líder espiritual dos xiitas no Iraque, que formam a maioria da população. Maliki é também da facção xiita, pelo que a censura por parte de Sistani carrega ainda mais peso.

Desde a queda de Saddam Hussein que as comunidades sunita e xiita estão divididas e dezenas de milhares de pessoas morreram durante a década em resultado de conflitos sectários.

Neste momento a principal ameaça à segurança no país vem do Estado Islâmico, um movimento islamita sunita que iniciou as suas actividades no Iraque mas cresceu verdadeiramente durante o conflito na Síria, ao ponto de ter regressado ao Iraque mais forte e com capacidade para humilhar o exército iraquiano, tomando rapidamente grandes regiões do país, incluindo Mossul, uma das maiores cidades do país.

O Estado Islâmico ataca principalmente as forças militares do Iraque e da Região Autónoma do Curdistão Iraquiano, mas os islamitas têm sido impiedosos também com membros de minorias religiosas, incluindo cristãos e yazidis. Os xiitas são considerados apóstatas e também são perseguidos e assassinados sempre que apanhados pelos terroristas.

O grupo extremista foi bem recebido em muitas zonas por sunitas, insatisfeitos por o que dizem ser discriminação por parte do Executivo de Maliki, mas, à medida que o Estado Islâmico impõe a sua versão extremista da lei religiosa, tem aumentado a revolta mesmo das populações sunitas a viver sob o seu controlo, segundo alguns relatos que chegam do terreno.

Outra facção em jogo são os curdos. Na sua maioria são também sunitas mas o fundamentalismo tem pouca implantação no Curdistão, cujos militares, os peshmerga, têm combatido o Estado Islâmico e dado guarida às centenas de milhares de cristãos e yazidis que conseguiram fugir dos territórios ocupados.

Milícias xiitas têm combatido ao lado dos soldados do exército regular iraquiano e dos peshmerga nas regiões ainda sob controlo dos respectivos governos, mas aumenta a insatisfação com a inaptidão dos políticos em resolverem as suas disputas internas para poderem apresentar uma frente unida contra o Estado Islâmico.

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