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Já caiu a “capital” dos cristãos no norte do Iraque

07 ago, 2014 • Filipe d’Avillez

A cidade de Qaraqosh, onde viviam entre 40 e 50 mil cristãos, foi ocupada durante a noite pelos militantes do Estado Islâmico. Toda a população fugiu.  

Já caiu a “capital” dos cristãos no norte do Iraque
Qaraqosh era a cidade mais segura do Iraque para se ser cristão. Até ontem.

Localizada a cerca de 50 quilómetros de Mossul, os mais de 40 mil cristãos que viviam naquela que era a capital dos cristãos no norte Iraque, já estavam de sobreaviso pelos avanços na região de militantes do Estado Islâmico.

O grupo islamita, que ocupou Mossul em Junho e nos últimos dias conquistou um grande número de vilas e aldeias na mesma região, que até então estavam nas mãos das forças do Curdistão Iraquiano, tem perseguido os cristãos e os membros de outras minorias religiosas no norte do Iraque.

Depois da ocupação da cidade de Sinjar, habitada por uma grande comunidade de yazidis, curdos que praticam uma religião própria, milhares de pessoas foram executadas, entre relatos de raptos e violações de mulheres e crianças. Entre 10 e 50 mil yazidis refugiaram-se no monte Sinjar, que fica junto da cidade, onde se encontram há três dias sem comida, água ou abrigo. Muitos já morreram de sede, sobretudo mulheres, crianças e idosos.

Em Qaraqosh, pelo que é possível averiguar com base nos poucos relatos que chegam do local, a população não foi apanhada desprevenida. Depois de alguns tiros de artilharia contra a cidade terem morto uma mulher e duas crianças os cristãos calcularam que os islamitas iam avançar e fugiram em massa durante a noite, deixando a cidade praticamente deserta.

Segundo a AINA, a agência internacional de notícias da Assíria, como é conhecida a região pelos cristãos locais, a população fugiu sobretudo para cidades do Curdistão, incluindo a capital Arbil. Outras aldeias ou vilas cristãs que ficam nas proximidades também já foram abandonadas por precaução.

Resta saber se as centenas de milhares de pessoas que já se refugiaram no Curdistão iraquiano estão a salvo dos islamitas, que têm avançado na direcção de Arbil. Depois de uma série de derrotas as forças armadas curdas reorganizaram-se e ontem passaram à ofensiva, mas tanto quanto se sabe não conseguiram expulsar os islamitas dos territórios ocupados na última semana.

Apesar de terem retomado a colaboração com o exército iraquiano, os curdos não parecem capazes de impedir aquilo que só pode ser definido como um genocídio de cristãos, yazidis e outras comunidades minoritárias naquela região do país.