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Ministra muçulmana em Londres demite-se por causa de Gaza

05 ago, 2014 • Filipe d’Avillez

Sayeeda Warsi teme que a forma como o Reino Unido está a agir perante o actual conflito contribua para a radicalização dos muçulmanos britânicos.  

A única ministra muçulmana do Governo de David Cameron demitiu-se, esta terça-feira, por causa do conflito em Gaza.

Sayeeda Warsi divulgou na sua conta do Twitter a carta de demissão que fez chegar esta manhã às mãos do primeiro-ministro, David Cameron, e na qual elenca as razões da sua decisão.

“No meu ponto de vista a nossa política em relação ao Processo de Paz do Médio Oriente, em geral, mas mais recentemente a nossa atitude e linguagem utilizada durante o actual conflito em Gaza são moralmente indefensáveis, não servem os interesses do Reino Unido e terão um efeito prejudicial a longo prazo para a nossa reputação internacional e interna”, lê-se.

A baronesa Warsi nasceu em Inglaterra, mas é de ascendência paquistanesa. Até à sua demissão, ocupava os cargos de Ministra de Estado para a Fé e as Comunidades e ministra de Estado para os Negócios Estrangeiros e do Commonwealth.

Com estas posições, Sayeeda Warsi era uma das pessoas mais influentes da comunidade muçulmana no Reino Unido, em termos políticos.

Recordando que esteve presente desde o começo do percurso de Cameron, Warsi lamenta não poder acompanhar o primeiro-ministro até ao final.

A ministra destaca ainda, na sua carta de demissão, o trabalho desenvolvido para combater o radicalismo, a islamofobia e também de condenação da perseguição aos cristãos. “Contudo, as provas iniciais recolhidas pelo Home Office [Ministério do Interior] e outros revela que os efeitos do actual conflito e o potencial da nossa resposta à crise em Gaza se tornar uma fonte de radicalização podem ter consequências para os próximos muitos anos”.

Durante os seus anos no Governo britânico, Warsi foi uma defensora da presença da religião na praça pública e da liberdade religiosa. Foi uma das pessoas que recebeu Bento XVI na sua histórica visita de Estado ao Reino Unido, tendo-o elogiado na altura, e foi crítica da introdução da legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo, uma causa defendida por David Cameron.