25 mai, 2014 • Aura Miguel
Chegou diante do muro de betão gigante com oito metros de altura e permaneceu parado, com a mão apoiada naquela barreira opaca e agressiva.
A certa altura, encostou mesmo a sua testa no betão. Depois benzeu-se.
Alheio aos milhares de grafitos e frases escritas em árabe e língua inglesa, bem reveladoras da revolta dos palestinianos contra os vizinhos israelitas, o Papa Francisco olhou para aquela parede muda e rezou em silêncio.
De semblante carregado, não proferiu palavra, mas falou de outra maneira.
E, sempre com a mão apoiada naquele muro, como se fosse possível derrubá-lo com a oração, o gesto de Francisco viria a revelar-se bem explícito, poucas horas depois, quando no final da missa, convidou os dois vizinhos em conflito – os presidentes de Israel e da Autoridade Palestiniana – a rezarem pela paz, no Vaticano, juntamente com o Papa.
Afinal, não foi em Belém, que de modo completamente inesperado e fora dos esquemas da época – ali mesmo onde Francisco formulou o convite – viria a nascer numa manjedoura o Príncipe da Paz?