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Papa diz a israelitas que "não há outro caminho" que não seja a paz

25 mai, 2014 • Filipe d'Avillez

Francisco recordou o Holocausto e apelou ao fim do anti-semitismo, pedindo uma educação "onde a exclusão e o conflito cedam o lugar à inclusão e ao encontro".

Papa diz a israelitas que "não há outro caminho" que não seja a paz

O Papa Francisco repetiu esta tarde o apelo que já tinha feito de manhã pela paz na região da Terra Santa. Se de manhã o discurso era dirigido a Mahmoud Abbas, líder da Palestina, agora quem o ouvia era Shimon Peres, o presidente de Israel.

"Em união com todos os homens de boa vontade, suplico a quantos estão investidos de responsabilidade que não deixem nada por fazer na busca de soluções justas para as complexas dificuldades, de tal modo que israelitas e palestinianos possam viver em paz".

No final da missa que celebrou esta manhã na Palestina, o Papa chegou mesmo a desafiar os líderes da Palestina e de Israel para um encontro de oração pela paz no Vaticano, convite que repetiu, palavra por palavra, no final do seu discurso na recepção em Telavive.

Pedindo que se invista no diálogo "com coragem", o Papa insistiu que "não há outro caminho" e repetiu as palavras de Bento XVI quando foi à Terra Santa: "seja universalmente reconhecido que o Estado de Israel tem o direito de existir e gozar de paz e segurança dentro de fronteiras internacionalmente reconhecidas. Seja igualmente reconhecido que o Povo Palestiniano tem o direito a uma pátria soberana, a viver com dignidade e a viajar livremente. Que a 'solução de dois Estados' se torne realidade e não permaneça um sonho!"

A Igreja Católica há muito que defende a solução dos dois Estados, pedindo também um estatuto especial para Jerusalém, algo que Israel recusa. O Papa referiu de forma subtil a importância internacional da Cidade Santa: "Durante esta minha peregrinação à Terra Santa, visitarei alguns dos lugares mais significativos de Jerusalém, cidade de valor universal. Jerusalém significa 'cidade da paz'. Assim Deus a quer e assim todos os homens de boa vontade desejam que seja. Mas, infelizmente, esta cidade é ainda atormentada pelas consequências de longos conflitos."

Em Israel para concluir a sua peregrinação à Terra Santa, que incluirá como ponto alto o encontro ecuménico com o Patriarca de Constantinopla, o Papa não deixou de referir a história trágica dos judeus no século XX.

"Momento particularmente tocante da minha estada no vosso País será a visita ao Memorial de Yad Vashem, erguido em recordação dos seis milhões de judeus vítimas do Shoah, tragédia que permanece símbolo dos extremos aonde pode chegar a malvadez do homem, quando, atiçado por falsas ideologias, esquece a dignidade fundamental de cada pessoa, a qual merece respeito absoluto seja qual for o povo a que pertença e a religião que professe. Peço a Deus que jamais se repita semelhante crime", disse o Papa, fazendo questão de referir directamente o assassinato de dois cidadãos israelitas, no sábado, em Bruxelas, um crime que já tinha sido referido por Shimon Peres.

"Sempre lembrados do passado, promovamos uma educação onde a exclusão e o conflito cedam o lugar à inclusão e ao encontro, onde não haja lugar para o anti-semitismo, seja qual for a forma em que se manifeste, nem para qualquer expressão de hostilidade, discriminação ou intolerância contra indivíduos e povos", disse ainda Francisco.

Esta noite o Papa Francisco pernoita em Israel. Segunda-feira, ainda há actividades e o Santo Padre apenas regressa a Roma ao fim da tarde.