Tempo
|

Na Palestina, Papa exorta à “coragem da paz”

25 mai, 2014 • Filipe d’Avillez

Francisco sublinhou o papel dos cristãos na sociedade palestiniana e voltou a falar da urgência de se respeitar a liberdade religiosa em toda a região árabe.

Na Palestina, Papa exorta à “coragem da paz”
O Papa Francisco disse este domingo que “é hora” de acabar com o conflito israelo-árabe e voltou a manifestar o seu apoio por uma solução de dois estados naquela região.´

Acabado de chegar à Palestina, vindo da Jordânia, o Papa discursou diante do presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, e foi directamente ao assunto, lamentando a situação de conflito que existe ainda.

“Há decénios que o Médio Oriente vive as consequências dramáticas do prolongamento de um conflito que produziu tantas feridas difíceis de curar e, mesmo quando, felizmente, não se alastra a violência, a incerteza da situação e a falta de entendimento entre as partes produzem insegurança, negação de direitos, isolamento e saída de comunidades inteiras, divisões, carências e sofrimentos de todo o tipo.”

Chegou o tempo, considera Francisco, de dizer basta. “Queria do fundo do coração dizer que é hora de pôr fim a esta situação, que se torna sempre mais inaceitável, e isto para bem de todos”.

Francisco reafirmou a linha do Vaticano, que tem sido sempre a favor do reconhecimento de dois Estados na Terra Santa: “Chegou o momento de terem a coragem da generosidade e da criatividade ao serviço do bem, a coragem da paz, que assenta sobre o reconhecimento, por parte de todos, do direito que têm dois Estados de existir e gozar de paz e segurança dentro de fronteiras internacionalmente reconhecidas”.
 
Como sinal palpável da sua preocupação por esta situação, no final do discurso, e a caminho de Jerusalém, o Papa dirigiu-se ao muro que separa Israel da autoridade palestiniana, que em certos locais divide aldeias e povoações ao meio, desviando-se da sua rota programada.

O Santo Padre recorreu à imagem do êxodo, que ressoa particularmente junto da comunidade judaica, para realçar que o caminho para a paz será duro e obriga a sacrifícios, mas é necessária: “Faço votos de que os povos palestiniano e israelita e suas respectivas autoridades empreendam este êxodo feliz para a paz com aquela coragem e aquela firmeza que são necessárias em qualquer êxodo”.

Na parte final do seu discurso o Papa falou da comunidade cristã, sabendo certamente que esta tem enfrentado desafios cada vez maiores na Palestina, tanto na Cisjordânia como em Gaza. Os cristãos palestinianos já foram uma minoria significativa, mas ao longo das décadas têm emigrado em números maiores do que os seus compatriotas muçulmanos, em parte também por causa do aumento do fundamentalismo islâmico em todo o mundo árabe, que também se espalhou à Palestina.

“Os cristãos querem continuar a desempenhar o seu papel como cidadãos de pleno direito, juntamente com os demais concidadãos considerados como irmãos”, disse o Papa, “a este respeito, exprimo o meu apreço pelos esforços feitos para elaborar um Acordo entre as Partes relativo aos diferentes aspectos da vida da comunidade católica do país, com especial atenção à liberdade religiosa.”

“Com efeito, o respeito deste direito humano fundamental é uma das condições irrenunciáveis da paz, da fraternidade e da harmonia; mostra ao mundo que é indispensável e possível encontrar um bom acordo entre culturas e religiões diferentes; testemunha que as coisas que temos em comum são tantas e tão importantes que é possível individuar uma estrada de convivência serena, ordenada e pacífica, na aceitação das diferenças e na alegria de sermos irmãos porque filhos de um único Deus.”

Esta foi a segunda vez que o Papa, em terras árabes, falou da necessidade de se respeitar a liberdade religiosa, um sinal claro para os governos de alguns países da região, onde a prática do Cristianismo não é sequer permitida.