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“Sangue dos mártires é semente de unidade”

08 mai, 2014 • Filipe d’Avillez

O Papa recebeu em audiência o chefe da Igreja Apostólica da Arménia, a quem disse que os arménios têm um “lugar de honra” entre os cristãos perseguidos no século XX.  

“Sangue dos mártires é semente de unidade”
O Papa Francisco disse esta quinta-feira que o sangue dos mártires é “semente de unidade”, adaptando assim para a causa ecuménica a crença cristã de que o “sangue dos mártires é semente de cristãos”.

Na audiência ao líder da Igreja Apostólica da Arménia, o Catolicós Karekin II, Francisco falou dos laços de amizade que unem as duas igrejas, que não estão em comunhão.

“Consigo dou graças a Deus, porque nos últimos anos as relações entre a Igreja Apostólica Arménia e a Igreja de Roma têm-se fortalecido, graças a eventos que guardamos na nossa memória. Recordo a visita do meu santo antecessor [João Paulo II] à Arménia em 2001, e a sua recepção aqui no Vaticano durante a visita oficial a Bento XVI, em 2008, bem como a presença na inauguração do meu ministério como Bispo de Roma, o ano passado.”

O Papa falou também da tragédia que se abateu sobre os arménios no início do Século XX, às mãos do Império Otomano, quando terão morrido até 1,5 milhões fruto de massacres ou deportações.

“O número de discípulos que derramaram o seu sangue por Cristo durante os eventos trágicos do século passado é certamente maior do que os mártires dos primeiros séculos, e neste martirológio os filhos da nação arménia ocupam um lugar de honra”, disse.

“O seu testemunho, simultaneamente trágico e grande, não deve ser esquecido”, afirmou o Papa Francisco, sem, contudo, utilizar a palavra “genocídio”, como chegou a fazer no início do seu pontificado, motivando veementes protestos das autoridades turcas, que contestam o conceito.

Continuando, o Papa falou da importância deste evento na história do ecumenismo: “Sua Santidade, caros Irmãos, os sofrimentos vividos por cristãos nestas últimas décadas fizeram uma contribuição única e valiosa para a unidade dos discípulos de Cristo. Tal como na Igreja antiga o sangue dos mártires era semente de novos cristãos, também no nosso tempo o sangue de incontáveis cristãos se tornou semente de unidade”.

Francisco falou ainda de um “ecumenismo do sofrimento”, que classifica como “salvífico”.

“O ecumenismo do sofrimento e o martírio de sangue são um poderoso convite para percorrer o longo caminho de reconciliação das Igrejas, abandonando-nos corajosa e decisivamente às obras do Espírito Santo. Sentimos o dever de seguir este carminho fraternal, também pela dívida de gratidão que temos para com o sofrimento de tantos dos nossos irmãos e irmãs, que é salvífico porque unido à Paixão de Cristo”.

Após esta audiência os dois líderes participaram num momento comum de oração.

A Igreja Apostólica da Arménia é uma igreja ortodoxa, que está em comunhão com a Igreja Copta, do Egipto, a Igreja Etíope e a Igreja Malankara, na Índia. A Arménia foi o primeiro país do mundo a adoptar o Cristianismo como religião de Estado e mantem-se uma nação preponderantemente cristã. A maioria dos arménios pertence à Igreja Apostólica, embora alguns pertençam à Igreja Católica da Arménia, que está em comunhão com Roma mas mantem a liturgia tradicional da Arménia.