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Papa disse que a mulher em união de facto pode comungar?

23 abr, 2014 • Filipe d’Avillez

O Vaticano confirma que existiu uma conversa telefónica com Jacqueline Lisbona. Não comenta o conteúdo do diálogo, mas avisa que a doutrina católica não se baseia em telefonemas.

Papa disse que a mulher em união de facto pode comungar?
Terá o Papa Francisco dito a uma mulher argentina, a viver em união de facto com um homem divorciado, que era lícito comungar? A história surgiu na imprensa internacional, esta quarta-feira, e já está a causar um enorme debate, embora os detalhes ainda não estejam muito claros.
 
A primeira versão indicava que o Papa tinha telefonado a Jacqueline Lisbona, depois de ter recebido uma carta sua, na qual lamentava que um sacerdote da sua paróquia lhe tivesse recusado dar a comunhão. Nessas primeiras notícias, dizia-se que Lisbona era divorciada e recasada pelo civil. A fonte indicada era um post na conta do Facebook do seu actual marido, que referenciava a conversa.
 
Contudo, já é possível confirmar que Lisbona nunca foi casada pela Igreja, mas que o homem com quem vive há 19 anos, de quem tem dois filhos, era divorciado antes de os dois se juntarem. Mesmo neste estado, porém, à luz do direito canónico, Jacqueline não devia comungar, uma vez que está a viver com um homem que não é seu marido, à luz dos ensinamentos da Igreja.
 
Restava, contudo, a dúvida sobre a veracidade da conversa, tanto mais que há antecedentes de “telefonemas do Papa” que acabaram por se revelar falsos. O Vaticano acabou, contudo, por confirmar que a conversa tinha tido lugar, embora se escusasse a comentar os detalhes daquilo a que chamou uma “conversa privada”.
 
A CNN acabou por conseguir uma declaração do padre Thomas Rosica, um consultor da Sala de Imprensa do Vaticano, que, apesar de confirmar a chamada, disse que a conversa era entre “o Papa e a mulher”. Rosica foi claro também ao afirmar que os comentários do Papa nunca poderiam ser interpretados como uma mudança de posição oficial da Igreja. “O magistério da Igreja não se define por telefonemas pessoais”, argumentou.
 
“Não é correcto retirar quaisquer conclusões sobre esta situação particular, no sentido de que o Papa possa estar a determinar uma rota”, adiantou ainda, rematando: “O Papa é, antes de mais e sobretudo, um pastor querido, e é sempre complicado lidar com situações humanas”.
 
O debate à volta desta questão é tanto mais intensa porque a Igreja se prepara para discutir estes e outros problemas no sínodo que vai ter lugar em Outubro. A questão do acesso aos sacramentos por parte das pessoas em situações matrimoniais irregulares será um dos principais temas do sínodo e o próprio Papa já afirmou que esta é uma das suas grandes preocupações.
 
Segundo Jacqueline Lisbona, o Papa terá dito que pretendia usar o seu caso pessoal para “apoiar o seu argumento”, mas sem uma posição oficial do Vaticano não é possível confirmar se foi de facto isso que Francisco disse no diálogo teleónico.