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Líderes religiosos juntam-se contra a escravatura

17 mar, 2014

A escravatura moderna afecta cerca de 30 milhões de pessoas em todo o mundo e envolve o tráfico humano, incluindo prostituição forçada, o trabalho forçado, o recrutamento de crianças soldado, a prostituição infantil e as piores formas de trabalho infantil, assim como o casamento forçado.

Representantes das religiões católica, anglicana e islâmica assinaram esta segunda-feira, no Vaticano, um acordo para erradicar até 2020 a escravatura moderna e os maus-tratos a seres humanos.

"Conseguimos um grande e complexo acordo que não tem precedentes no mundo. Não há nada como isto na história das relações entre cristianismo e islão. É um dia histórico", disse à agência Lusa o magnata australiano Andrew Forrest, fundador da Walk Free Foundation, que tem como missão acabar com a escravatura numa geração.

Com esse objectivo, o bispo Marcelo Sánchez Sorondo, em representação do Papa Francisco; Mahmoud Azab, em nome imã de Al Azhar, a mais alta autoridade dos muçulmanos sunitas, e David John Moxon, representante do arcebispo da Cantuária na Santa Sé, assinaram hoje, com Andrew Forrest, um memorando de acordo que formaliza o arranque do projecto, intitulado Global Freedom Network (Rede Global de Liberdade). Outros líderes religiosos são convidados a aderir e poderão ser adicionados como partes do acordo, explica a organização.

Numa iniciativa sem precedentes, os signatários comprometem-se a recorrer aos instrumentos da fé : oração, jejum e caridade para alcançar o objectivo. Os representantes das várias religiões querem também convocar uma jornada de oração pelas vítimas e pela sua libertação.

O memorando prevê 48 objectivos até 2019, nomeadamente que todas as religiões assegurem que as suas próprias cadeias de fornecimento e investimentos não integram a escravatura moderna, que o G20 adopte uma iniciativa contra a escravatura ou que 50 das principais multinacionais se comprometam a assegurar que as suas cadeias de fornecimento não integrem a escravatura moderna.

A Global Freedom Network fez já "contactos preliminares com 162 governos em todo o mundo" e assumirá a responsabilidade de "trabalhar com os governos para conseguir, com eles e através deles, planos e estratégias explícitas que ponham fim definitivo à escravatura nas suas fronteiras", explicou ainda Forrest.

O empresário, um dos homens mais ricos da Austrália, que se interessou pela questão da escravatura moderna após a experiência da filha como voluntária no Nepal, acrescentou que a iniciativa será suportada por um fundo global para apoiar os países que não tenham os montantes necessários para combater eficazmente a escravatura.

O fundo, que deverá precisar de mais de mil milhões de dólares, segundo as primeiras estimativas, será lançado no Fórum Económico Mundial, em Davos, em 2015.

Segundo a Walk Free Foundation, a escravatura moderna afecta cerca de 30 milhões de pessoas em todo o mundo e envolve o tráfico humano, incluindo prostituição forçada, o trabalho forçado, o recrutamento de crianças soldado, a prostituição infantil e as piores formas de trabalho infantil, assim como o casamento forçado.

"A escravatura moderna e o tráfico humano continuam a aumentar. As vítimas estão escondidas: em locais de prostituição, em fábricas e em quintas, em embarcações de pesca e em estabelecimentos ilegais, em casas privadas a portas fechadas e em vários outros lugares nas cidades, aldeias e bairros de lata das nações mais ricas e mais pobres do mundo", pode ler-se na declaração conjunta hoje assinada no Vaticano.