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"Ser punk, hoje, é casar e ter filhos"

11 mar, 2014 • Filipe d´Avillez

Papa pede aos jovens para se "rebelarem contra a cultura do provisório, do imediato", diz o músico Manuel Fúria.

"Ser punk, hoje, é casar e ter filhos"

"Se há 30 anos ser punk era ter o cabelo espetado e desrespeitar fotos de figuras da autoridade, hoje em dia ser punk é ter o cabelo penteado, casar e ter filhos. Agrada-me estar do outro lado da barricada." Quem o diz é Manuel Fúria, "rocker" de 30 anos, que esta terça-feira à tarde esteve presente na Universidade Católica para comentar o primeiro aniversário da eleição do Papa Francisco.

Durante a conferência organizada pela Renascença, a Católica e a Agência Ecclesia sobre o primeiro aniversário do pontificado de Francisco, Fúria destaca o apelo que Francisco fez aos jovens, no Rio de Janeiro, para se "rebelarem contra a cultura do provisório, do imediato, da fragmentação, esta ideia de que a nossa vida devia ser uma série ininterrupta de êxtase/ressaca".

Tudo isto, considera o autor de "Manuel Fúria Contempla Os Lírios Do Campo", não passa de uma contingência, uma vez que no essencial os homens não mudaram muito ao longo dos milénios, apesar dos avanços tecnológicos.

"Acredito que o Homem tem um lado eterno, que é o mesmo de sempre. Somos tão tontos como Pedro, extasiado, quando vê Jesus ressuscitado; somos tão obstinados no erro como Marta; somos tão pequenos e curiosos como Zaqueu; somos tão mortos como Lázaro", disse.

É contra essa contingência que o Papa pede rebelião, acredita Fúria. "Pede-nos que tenhamos fé suficiente para ultrapassar essa contingência."

A fome e a bala
No mesmo painel participaram também Alfredo Bruto da Costa, presidente do Conselho Nacional Justiça e Paz, e a psicóloga Margarida Neto.

Bruto da Costa comentou a frase "Esta economia mata", que o Papa incluiu no documento "A Alegria do Evangelho".

O sociólogo considera que não há dúvida de que o Papa usou o termo, que é duro, de forma literal. "Qual é a economia que mata? Segundo o Papa, é a economia actual, de exclusão e desigualdade social".

"Se não pode haver capitalismo sem estes vícios, então isto é uma condenação do capitalismo", disse Bruto da Costa, deixando em aberto a dúvida.

Para os cristãos, o problema não está em saber o que significam esses termos, exclusão e desigualdade social, mas sim em "valorizar a sua gravidade ética".

O conferencista não vê diferença entre "morrer por efeito de uma bala ou por fome".

Bruto da Costa condenou também a ideia prevalecente entre os economistas "que, quando se gera riqueza, uma força qualquer invisível faz com que chegue a todas as camadas da sociedade. O Papa afirma que isso não é verdade."

"Um espanto"
Margarida Neto, especialista em assuntos de família, comentou a frase "Com licença, desculpe, obrigado", as "palavras mágicas" que o Papa recomendou aos noivos que recebeu em audiência-geral, no dia 14 de Fevereiro, em Roma.

Margarida Neto considera que "foi um espanto: um Papa que vem do outro lado do mundo, que diz ‘boa noite’, que se inclina diante dos fiéis".

"Sobretudo", recorda, "o que fica é a proximidade, não que os outros não tenham sido, mas foram de outra maneira. É um Papa como nós, leva-nos a sacralizar menos a figura do Papa e assim, aproximar-nos mais de Deus e da Santidade".