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ÉVORA

Igreja quer ajudar adolescentes que procuram sentido para a vida

19 fev, 2014 • Rosário Silva

“Há casos concretos de jovens que chegam a dizer, que se não tivessem este grupo já se tinham suicidado, ou que este é o único lugar onde podem chorar à vontade” conta o director do Departamento da Catequese, da Infância e da Adolescência da Arquidiocese de Évora.  

A arquidiocese de Évora prepara-se para assinalar o Dia Diocesano do Adolescente. Este ano é para Arraiolos que vão convergir várias centenas de jovens, este sábado dia 22 de Fevereiro, para uma jornada à qual se associa o Arcebispo, D. José Alves.

Este é, também, um momento ideal para convidar “todas as paróquias e as diferentes comunidades a que olhem de uma forma nova para este tempo e este período da adolescência que, muitos psicólogos consideram, hoje, como quase uma classe social à parte, onde pouca gente ou quase ninguém entra. Nem políticos, nem pais, nem Igreja” diz convicto, à Renascença, o diácono João Carapito.

O director do Departamento da Catequese da Infância e da Adolescência considera que é importante não existir uma ruptura na caminhada cristã que, a maioria das vezes, termina com a Profissão de Fé.

“Este é um tempo forte de construção da personalidade e para aqui concorrem de uma forma muito particular, a influencia da componente social e também das experiencias pessoais que eles vão agarrando e fazendo suas. A fé, nesta altura, é vivida e interpretada em função dos outros, daquilo que eles dizem e do que é conveniente. Por isso, esta idade é propícia a que o crente possa ser fiel, quer à comunidade, quer ao movimento que funciona como referência” salienta, recordando que “é tónica principal do que se pretende com a catequese: inserir alguém na comunidade cristã para que tenha esta relação, não só pessoal mas também de grupo e de Igreja com Jesus Cristo”.

Chegar a uma idade em que se deixou de ser criança mas também não se é adulto, traduz-se num conjunto de dúvidas e incertezas que são orientadas de acordo com o ambiente que cada um vive, seja em casa, na escola ou noutro qualquer meio. Aqui, a Igreja encontra um horizonte alargado onde pode e deve investir. Uma Igreja, reconhece João carapito, que está a olhar de forma mais atenta para a catequese na adolescência e que deve mudar em pelo menos três aspectos essenciais.

“É preciso uma nova linguagem verbal, litúrgica, também na dinâmica da pastoral da caridade. Depois é preciso dar novos tempos à catequese, ou seja, o tempo faz falta, ajuda a crescer na fé, à descoberta da fé, à descoberta de si mesmo, do outro e de Deus. Novos tempos para a oração, o silencio, a contemplação, o trabalho pastoral ou para a família. Portanto, é preciso dar uma nova linguagem, novos tempos e mais uma coisa. Novos espaços, isto é, que a catequese aconteça fora do âmbito (passo a expressão) da sacristia ou da salinha da catequese e esteja noutro contexto, onde seja possível comer juntos, rezar juntos, estar na natureza juntos ou partilhar a fé juntos” acentua o diácono.

Este responsável já leva uns largos anos de trabalho com crianças e jovens e sabe que há muitos, entre os 12 e os 18 anos que não abandonaram a comunidade cristã mesmo depois de chegarem à universidade. E não são raros os testemunhos emotivos de jovens que se tornaram adultos fruto da graças à entrega desprendida de catequistas e paróquias.

“Há casos concretos de miúdos que chegam a dizer, e foi há pouco tempo que me disseram, ‘se eu não tivesse este grupo já me tinha suicidado”, ou ‘este é o único lugar onde eu posso chorar à vontade’, ‘esta pessoa, esta catequista, é a única que me ouve porque os meus pais não têm tempo para mim’.

“Quando isto acontece” prossegue João Carapito, “temos ganho aquele jovem e, se calhar, só por um jovem vale a pena estar uma catequista disponível todas as semanas para criar esta relação afectiva que é fundamental nesta idade” sublinha.

O Dia Diocesano do Adolescente foi pensado a partir da frase dos Actos dos Apóstolos: “Aquilo que tenho te dou” e compreende uma celebração da palavra com o Arcebipo de Évora, diversos ateliers e um conjunto de actividades recreativas preparadas pelos jovens das diferentes paróquias. A estes foi, ainda, lançado um desafio: a entrega de um género alimentício para as instituições de solidariedade social do concelho de Arraiolos.