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"Rolling Stone" rende-se ao "efeito Francisco"

28 jan, 2014 • Filipe d’Avillez

Revista norte-americana faz um elogio de 12 páginas ao Papa, mas inclui leituras selectivas e críticas ao que considera ser o "desastroso" pontificado Bento XVI.

"Rolling Stone" rende-se ao "efeito Francisco"
Depois de ter sido capa da "Vanity Fair" e da "Time", agora foi a vez de a revista "Rolling Stone" eleger o Papa Francisco uma das grandes figuras do momento. A publicação norte-americana, dedicada normalmente a assuntos musicais e de actualidade, com pendor liberal e dirigida sobretudo a jovens adultos, dedica nada menos que 12 páginas ao Papa, elogiando o seu estilo e a forma como estará a mudar a face da Igreja.

São revisitados episódios já conhecidos, como o de o Papa ter pago a sua própria conta de hotel depois do conclave e de ter recusado viver nos apartamentos pontifícios. O impressionante facto de as multidões nas audiências gerais terem triplicado durante o seu pontificado e a forma como abandona os acessórios exóticos dos seus antecessores, preferindo um estilo mais sóbrio e simples, são também sublinhados.

A forma como Francisco se demora quando saúda as multidões no fim das suas audiências, as dores de cabeça que dá aos seus seguranças ao misturar-se com o povo e até o facto de beber canecas de "Maté", o chá típico da América do Sul, que lhe são oferecidas por desconhecidos são acontecimentos que a "Rolling Stone" cita para justificar os motivos pelos quais considera Francisco um Papa muito diferente dos seus antecessores. Curiosamente o artigo sai no mesmo dia em que foi revelado qeu o Papa Francisco é mesmo o líder mundial mais procurado nos motores de busca.

Em contrapartida, Bento XVI e João Paulo II são severamente criticados por terem silenciado de forma autoritária os teólogos da libertação. Já Francisco é louvado por ter "proibido os Franciscanos da Imaculada de celebrar a Missa Latina" e "encerrado o seminário e impedido a ordem de ordenar novos padres”.

O Papa Bento XVI é um alvo particular da contestação do jornalista Mark Binelli, que assina a peça. A dada altura, descreve o pontificado de Bento XVI como "desastroso" e descreve-o como um "tradicionalista ferrenho que mais parecia que devia estar vestido com um fato às riscas e com luvas com dedos de lâmina, a ameaçar adolescentes nos seus pesadelos".

Trata-se de um vocabulário que certamente entristeceria o actual Papa, que sempre fez questão de elogiar Bento XVI. Ainda recentemente, Francisco lançou o pânico entre os funcionários da Santa Sé por ter desaparecido do refeitório - mais tarde, foi encontrado a levar croissants acabados de fazer para Bento XVI.

O autor faz ainda algumas interpretações abusivas de actos do Papa Francisco. Por exemplo, uma carta escrita pelo então arcebispo de Buenos Aires dizendo que a legalização do casamento entre homossexuais é "uma rejeição total da lei de Deus" não teria passado, na opinião da "Rolling Stone", de uma manobra para tentar conseguir o apoio dos conservadores.

O artigo do "Rolling Stone" foi publicado na edição lançada esta terça-feira e está inteiramente disponível no site da revista.