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D. Manuel Clemente

Com ou sem referendo, "é preciso uma grande reflexão sobre a co-adopção"

16 jan, 2014

Igreja Católica considera "essencial" a existência de uma referência materna e paterna para as crianças.

Com ou sem referendo, "é preciso uma grande reflexão sobre a co-adopção"
O Patriarca de Lisboa considera que a realização de um referendo à co-adopção e adopção de crianças por casais do mesmo sexo pode ser uma boa solução, uma vez que o assunto não foi debatido na campanha eleitoral. Mas com ou sem referendo, D. Manuel Clemente refere que é necessário um debate alargado que vá além dos agentes políticos.

"O que nós bispos temos dito em várias ocasiões é que estes temas estruturais têm que ser muito bem analisados não só pelos agentes políticos, como pela sociedade em geral. É um tema que precisa de ser reflectido - não é acessório. Trata-se da pessoa humana, daquilo que é antropologicamente o masculino, o feminino, a importância que estes factores têm na transmissão geracional e na educação na cultura. Às vezes dizem que estes temas são fracturantes, mas são estruturantes", afirmou o Patriarca esta quinta-feira, em Lisboa, à margem do lançamento de um livro sobre a imprensa regional da Igreja Católica. 

"A questão da co-adopção não pode ser tratada de forma leviana", prosseguiu D. Manuel Clemente. "Não nos podemos precipitar nesta matéria. Para não fazer hoje aquilo que poderemos refazer amanhã, façamos agora com substância, com consistência. Esse é que é o nosso ponto. Temas tão importantes como sejam o de considerar ou não essencial que as crianças disponham de pai e mãe, naturais ou adoptivos, não é algo de acessório que se possa resolver rapidamente", disse, sublinhando que os bispos "consideram essencial" a existência de uma referência materna e paterna para as crianças.

D. Manuel Clemente refere que a Igreja não se pronuncia sobre a forma constitucional de levar a cabo o debate, mas concorda que o referendo pode ser uma boa solução. "É sempre uma boa solução, porque nem sequer foi um tema muito versado na campanha eleitoral, em que as pessoas pudessem, com muita consciência, votar por isto ou por aquilo."

Ao contrário de alguns partidos da oposição, o também presidente da Conferência Episcopal Portuguesa não considera que o referendo fragilize o Parlamento. "Não me parece, porque o instituto do referendo está previsto na Constituição, como está o Parlamento e as suas atribuições. Tudo isso é constitucional, está previsto." 

O CDS já anunciou que se vai abster na votação que propõe o referendo à co-adopção e à adopção de crianças por casais do mesmo sexo, marcada para esta sexta-feira, no Parlamento. Com a abstenção do CDS, que tem 24 deputados, a iniciativa será aprovada se os 108 deputados do PSD votarem a favor, uma vez que a oposição tem no conjunto 98 deputados. A direcção social-democrata impôs disciplina de voto, no sentido de votar favoravelmente à realização de um referendo.