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O vínculo "que nos une"

23 dez, 2013 • Filipe d'Avillez

O que é o conceito de família? Terá sido sempre assim? Qual foi o papel do Cristianismo?

Marcos Castro tem 12 irmãos. O Natal, que lhe evidencia a extensão da família, mudou há dois anos - porque o país também mudou e as dificuldades aconselham moderação. "Decidimos que não haveria presentes para ninguém, excepto eventualmente para os mais pequenos."

O resultado foi uma nova perspectiva sobre o Natal, mesmo para uma família onde a dimensão religiosa da festa sempre tinha estado no centro - Marcos Castro, que tem 28 anos, é padre. "É neste laço familiar que se aprende a partilhar e a dar graças por aquilo que os pais podem dar", diz o sacerdote, que foi ordenado em Julho de 2010. 

"Para mim, sempre foi natural que aquilo que há, há. O que não há, pode-se fazer birra, mas passa", acrescenta Marcos Castro, que considera "crucial" a existência de uma "família forte" para ajudar as pessoas a descobrirem quem são. "Aquilo que eu sou na família é o que eu sou verdadeiramente. Fora da família, podemos ser várias coisas, uma com os amigos, outra no trabalho; dentro da família, eu próprio descubro o segredo daquilo que eu sou. Toda a gente conhece as minhas fraquezas, os meus altos, os meus baixos, está ali tudo. Se aquilo que é a família não existe, então não há identidade do que eu sou." 

E o que é o conceito de família? Terá sido sempre assim? No império romano não era. O marido e pai detinha total poder no núcleo familiar, incluindo o de dar a morte à mulher e aos filhos ou vendê-los como escravos. O Cristianismo revolucionou a vida social de então.

"O que é novo com o Cristianismo é aquilo que São Paulo vai incutir e que dá a identidade à Europa: não há homem nem mulher, grego ou judeu, escravo ou livre. Somos todos iguais e o que nos torna iguais é Cristo. A partir daqui, há uma nova identidade, nomeadamente da figura da mulher, que ganha outra dignidade", refere o padre Marcos Castro.

Mas o conceito cristão tem raízes mais profundas. "Herdámos dos judeus que na família se aprende tudo. Os judeus perceberam que a única maneira de serem um povo era entender que Deus os tinha escolhido e formado, que tinham um pai Abraão e que eram uma só família." 

O sacerdote recorre a uma entrevista que viu com Daniela Ruah, onde a actriz falava do facto de ser judia (apesar de não praticante), dizendo então que sentia a correr nas veias um sentido de pertença a um povo e a uma identidade maior. "Isto é o que é família. Mesmo que esteja longe, há uma identidade que não é apenas visual e física e que muitas vezes não se consegue explicar", diz o padre Marcos Castro.

Para o sacerdote, se é verdade que todas as famílias, independentemente das crenças ou da prática religiosa, têm um papel a desempenhar na sociedade, para os cristãos a fasquia é outra. "Olhando para a Sagrada Família, o que é que torna aquelas duas pessoas, Maria e José, uma família? Quem cria aqui a família é Jesus. No Natal, todos dizem que é o tempo da família. Mas o conceito de família é dizermos que Jesus é o vínculo que nos une."