Tempo
|

Igreja defende criação de emprego sem "corte dos direitos dos trabalhadores"

14 nov, 2013

Posição dos bispos portugueses é conhecida depois de o FMI ter recomendado novos cortes salariais, argumentando que facilita a criação de emprego.

Igreja defende criação de emprego sem "corte dos direitos dos trabalhadores"

A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) considera que "são de evitar políticas de criação de emprego pelo corte dos justos direitos dos trabalhadores". 

"Um dos mais graves problemas da actual crise por que passa o nosso país diz respeito ao mundo do trabalho. Trabalho que, sendo um dever, é também um direito a ser exercido em condições dignas da pessoa humana", sublinham os bispos numa mensagem sobre os "Desafios éticos do trabalho humano", aprovada na assembleia plenária que terminou esta quinta-feira, em Fátima.

A posição da Igreja foi divulgada um dia depois de o Fundo Monetário Internacional (FMI) ter defendido que é preciso ir mais além nos cortes salariais em Portugal, sobretudo no sector privado. Os técnicos internacionais consideram que é uma forma de potenciar a criação de emprego.

Na mensagem agora divulgada, a CEP manifesta-se muito preocupada com o desemprego, sobretudo com as pessoas que não têm acesso a qualquer subsídio. "Entre as situações mais graves estão os que, não tendo trabalho, se encontram sem acesso a qualquer forma de subsídio, correndo os riscos da luta pela subsistência", alertam os bispos portugueses, que reclamam como necessárias e urgentes políticas que favoreçam o crescimento económico e "criatividade nas soluções".

Em declarações prestadas no final da assembleia plenária, o presidente da CEP, D. Manuel Clemente, defendeu que os problemas do desemprego e as ameaças ao Estado social devem merecer uma resposta conjunta por parte dos governantes e da sociedade.

"Cabendo ao Estado, como primeiro órgão do bem comum, uma tarefa irrecusável, nós temos nitidamente a consciência, quer em Portugal, quer nos outros países europeus, de resolver isto em termos de sociedade no seu conjunto", afirmou D. Manuel Clemente.

Durante o encontro, a CEP aprovou ainda o envio de 25 mil euros, através da Cáritas Portuguesa, para ajudar as vítimas do tufão Haiyan, que atingiu as Filipinas.

Leis fracturantes "não são irreversíveis"
Preocupados com a alteração do conceito de família, os bispos portugueses aprovaram uma carta pastoral, "A propósito da ideologia do género", onde defendem que as leis fracturantes em matérias como aborto ou co-adopção de crianças por homossexuais "não são irreversíveis".

Os cidadãos e legisladores "que partilhem uma visão mais consentânea com o ser e a dignidade da pessoa e da família" são "chamados a fazer o que está ao seu alcance para as revogar", apela a Igreja.

O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa duvida que as alterações legislativas que têm sido feitas correspondam à vontade dos portugueses. "Temos muitas dúvidas de que os patamares legais a que se chegou correspondem efectivamente à convicção, até diria maioritária, do povo português e nós achámos que devíamos isso à sociedade portuguesa e à cultura", disse o prelado no final da assembleia plenária.

D. Manuel Clemente considera que "em todo este campo da sexualidade, da moral familiar, da própria consideração da vida humana, do seu valor e como a proteger, tem havido muito voluntarismo, nem digo jurídico, mas legal que não incluiu uma reflexão básica aprofundada". Para o também Patriarca de Lisboa, "não se deve antecipar um processo legislativo, seja ele qual for, a um processo cultural que é sempre básico". "Nós temos leis para viabilizar as convicções, então vamos trabalhar nas convicções", salienta.   

A carta pastoral elaborada pelos bispos portugueses alerta para as consequências da "ideologia do género" e da alteração do conceito de família. Consideram que a ideologia do género "pretende provocar uma revolução antropológica, secundarizando a identidade sexual como condição natural e biológica que nos faz ser mulheres ou homens, dando a primazia à construção de uma identidade, que cada um cria para si mesmo, independentemente do sexo com que nasceu e cresceu".

A CEP considera que "assim ficaria aberta a porta para a legitimação das uniões homossexuais e para o aparecimento de diversas alternativas à família de sempre, já não constituída por uma mãe, um pai e filhos, com raízes na sexualidade, matriz da nossa identidade".