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"Interesses" económicos dificultam a paz em Moçambique

22 out, 2013 • Ângela Roque

A escalada da tensão militar vai certamente dificultar a ajuda ao país, onde ainda há fome e pobreza.

O agravar da tensão em Moçambique não surpreende frei Fernando Ventura, que visita regularmente o país. À Renascença garante que no Verão a população já temia o regresso da guerra e fala em interesses económicos que estão a dificultar a paz.

A escalada da tensão militar vai certamente dificultar a ajuda ao país, onde ainda há fome e pobreza. O religioso lamenta que os políticos e militares não saibam aproveitar a natureza pacífica do povo moçambicano.

“Moçambique tem uma cultura de convivência intereligiosa que infelizmente não está a ser aproveitada pelas autoridades, quer de um lado quer do outro. Infelizmente há outros interesses que passam pelo carvão, pelo gás natural, que passam pela exploração até ao limite do impossível dos recursos naturais. Moçambique está a ser delapidado pela China na questão das madeiras e de outros bens de primeira necessidade e no acesso às fontes de energia”, considera o religioso.

Frei Fernando Ventura vai com frequência a Moçambique, onde os Franciscanos Capuchinhos desenvolvem vários projectos de solidariedade. Este ano visitou o país em Fevereiro e em Julho, e da última vez já sentiu que a população receava o regresso da guerra. “Em Julho estava já cortado o trânsito pela Nacional 1, a estada principal que vai junto ao mar, já só se passava em coluna militar. E a perspectiva e o medo real das pessoas era esse.”

Na sua opinião, o calendário eleitoral que se aproxima não vai ajudar à resolução da crise, que pode não ser passageira. “Tenho medo que não seja, temos as eleições autárquicas em Novembro, e eleições presidenciais no próximo ano, estas proximidades de calendário eleitoral também não ajudam nada a que se encontrem espaços e climas de diálogo”.