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Morreu o bispo que acreditava que "nós valemos muito mais do que julgamos"

09 out, 2013 • Matilde Torres Pereira, Carlos Calaveiras e Celso Paiva Sol

Corpo de D. António Marcelino está na igreja do seminário de Aveiro. Haverá missa pela sua alma às 19h00, seguida de vigília de oração às 21h30.

Morreu o bispo que acreditava que "nós valemos muito mais do que julgamos"
Morreu esta quarta-feira, aos 83 anos de idade, D. António Baltasar Marcelino, bispo emérito de Aveiro. A Diocese informou em comunicado que o prelado foi recentemente hospitalizado, tendo vindo a falecer pelas 17h30 no hospital Infante D. Pedro.

Cinquenta e seis anos depois de ter sido ordenado padre e 36 anos após a nomeação como bispo, D. António Marcelino decidiu relatar em livro os "desafios e a graça" que a vida lhe proporcionou. Foi em 2011, quando publicou "Pedaços de vida que geram vida". O que viu, sentiu e experimentou trouxe-lhe mais fé no Homem: "Foram vivências de ordem espiritual e humana que mostram que nós valemos muito mais do que julgamos". D. António Marcelino morreu esta quarta-feira no hospital Infante D. Pedro, em Aveiro, onde se encontrava internado. Tinha 83 anos e era bispo emérito de Aveiro.

"Era um homem alegre, bom comunicador e, pelo menos no início da sua missão episcopal, estava um passo à frente daquilo que se considerava ser um bispo dentro dos padrões mais frequentes", afirma o director do secretariado nacional das comunicações sociais, cónego João Aguiar Campos.

"Mesmo depois de ser bispo de Aveiro, não deixou de intervir na comunicação social, onde tinha uma presença semanal e sempre com opiniões que mereciam toda a atenção", acrescenta o cónego João Aguiar Campos, que é também presidente do conselho de gerência do Grupo Renascença Comunicação Multimédia.

"Pedaços de vida que geram vida", o livro que D. António Marcelino lançou em 2011, surgiu com uma descrição da obra assinada pelo próprio, porque "há acontecimentos e situações que vivemos mas que não nos pertencem só a nós". "Para este livro, escolhi vivências provocadas por gente que passou pela minha vida ou dela fez parte. Por vezes, gente simples e anónima, aquela que julgamos que nada tem para nos dar ou ensinar."

Num artigo publicado no semanário diocesano "Correio do Vouga", a 18 de Setembro de 2013, D. António Marcelino fez o balanço dos seus anos de sacerdócio e deixou uma carta de amor à Diocese de Aveiro.  

"Passaram pela minha vida mudanças sociais e acontecimentos que me foram ensinando a alegrar-me com os que estão alegres e a sofrer com os sofredores. Abriu-se-me um mundo de oportunidades que me estimulam e me empurram. Sou emigrante desde criança. Doze anos na minha terra, outros tantos no seminário, três em Roma, 18 em Portalegre, pouco mais de cinco em Lisboa e há perto de 33 em Aveiro", começou por escrever.

"Mia Couto põe na boca de um ancião africano esta palavra clarividente: 'O importante não é casa onde moramos, mas onde em nós a casa mora'. A minha casa mora é o meu coração. Aí guardo, desde o dia 1 de Fevereiro de 1981, um amor incondicional e irreversível. Este amor chama-se Diocese de Aveiro."

O corpo de D. António Marcelino estará esta quinta-feira na Igreja do Seminário de Aveiro. Às 19h00 é celebrada uma eucaristia e para as 21h30 está marcada uma vigília de oração. O funeral realiza-se pelas 15h00 desta sexta-feira no cemitério central de Aveiro, depois de uma eucaristia solene na Sé da cidade.

O percurso na Igreja

Natural da Lousa, D. António Marcelino foi ordenado presbítero em Junho de 1955. Partiu para Roma no fim de Setembro do mesmo ano e fez o curso de Direito Canónico na Universidade Gregoriana. Licenciou-se em 1957, fez no ano seguinte o currículo para o doutoramento, frequentou o curso de ciências pastorais e fez ainda um curso de cinema e outro de acção católica. 

Depois de regressar a Portugal, foi nomeado professor e prefeito dos alunos de Teologia no Seminário Maior de Portalegre. Em Julho de 1975, o Papa Paulo VI apontou D. António Marcelino para bispo auxiliar de Lisboa. A ordenação episcopal, conduzida por D. António Ribeiro, então Cardeal Patriarca de Lisboa, decorreu na Sé de Portalegre a 21 de Setembro de 1975. 

D. António Marcelino deu aulas na Universidade Católica de Lisboa, no Instituto de Ciências Humanas e Teológicas do Porto e foi director do Secretariado Nacional Pastoral. Em Setembro de 1983, foi nomeado bispo coadjutor de Aveiro, sucedendo em 1988 a Manuel de Almeida Trindade como bispo de Aveiro. 

Mais tarde, foi presidente das comissões episcopais das Comunicações Sociais, da Acção Social, da Família e do Apostolado dos Leigos. Em Junho de 1999 foi eleito vice-presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) e, durante cinco anos, foi delegado da CEP junto das Conferências Episcopais da Europa.

Por ocasião das festas jubilares do seu 70º aniversário e pelos 25 anos de bispo, D. António Marcelino foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem de Mérito, uma das mais altas condecorações do Estado português.

A 4 de Outubro de 2013, o bispo de Aveiro, D. António Francisco dos Santos, publicou uma nota no site da diocese em que pedia orações para o seu antecessor, explicando que o estado de saúde de D. António Marcelino era "muito delicado".